Memórias de uma criança entre adultos: a colunista Ariela Doctors fala sobre como os hábitos alimentares saudáveis devem começar na infância
Ariela Doctors* Publicado em 22/02/2022, às 07h00
Durante cinco anos em minha vida fui a única criança entre adultos. Quando eu era criança, brincava entre tios, tias e madrinhas. Chegamos a fundar um clube: Clube da Coca-Cola e do Chiclete.
Costumava me deliciar com todo aquele açúcar correndo em minha veias e aquele gosto de tutti frutti em minha boca.
Mudar o hábito e o desejo de comer açúcar e beber refrigerantes não foi e nem é fácil. Contudo, julgar ou culpar os adultos da minha infância, mesmo os meus pais, não creio ser uma alternativa.
Entre os anos 70 e 80 a indústria alimentícia veio com tudo e iniciou-se uma escalada de produtos cada vez mais processados, pasteurizados, açucarados, salgados e emulsificados. E foram tantos “ados” que penso que nós não deveríamos ter “ido”. Explico. A Humanidade não deveria ter ido, não deveria ter embarcado nessa ideia de praticidade absoluta para alimentar-se, nem se habituado aos sabores criados pela indústria. É claro que nem todo alimento industrializado ou processado faz mal à nossa saúde. Muitos dos processamentos básicos são inclusive necessários e benéficos. Podemos entender por processamentos básicos a limpeza, a moagem, a fermentação, o congelamento, a desidratação, a fermentação, a embalagem, dentre outros.
Transformar os hábitos é tarefa muito mais árdua do que criá-los desde sempre. Por isso, defendo a adoção de hábitos alimentares mais saudáveis e sustentáveis desde a infância. Porém, esta responsabilidade não depende só de nós, mães, pais, avós ou outros atores envolvidos no desenvolvimento integral das crianças. Esta deveria ser uma obrigação do Estado, já que é direito da criança e do adolescente o acesso à alimentação adequada e saudável. Além de estarem livres da fome, eles têm de ter acesso a alimentos que contribuam para o seu desenvolvimento.
Não há como separar estas duas condições inerentes do Direito Humano à Alimentação Adequada (DHAA). Contudo, faltam leis que obriguem os fabricantes a deixar os rótulos dos alimentos com informações mais claras, o que facilitaria nossas escolhas na hora da compra. Por exemplo, as informações deveriam vir na parte de frente das embalagens com alertas para o consumidor caso o produto contenha excesso de açúcar, sódio ou gordura.
Alimentos com essas características são classificados como ultraprocessados, como é o caso dos salgadinhos de pacote, bolachas recheadas, biscoitos, refrigerantes, macarrão instantâneo, dentre outros. O consumo desses alimentos resulta num aumento crescente das chamadas Doenças Crônicas Não transmissíveis (DCNT), como a diabetes, a hipertensão, alguns tipos de cânceres, doenças do coração e a obesidade, que entre as crianças brasileiras está atingindo novo recordes com aproximadamente 13% das crianças entre 5 a 9 anos atendidas pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
Outra medida importante a ser tomada é a regulamentação da publicidade infantil em rótulos de alimentos e bebidas. Já existem leis como a 8985/2012 que veda a comercialização de lanches acompanhados de brinde ou brinquedo. Contudo, essa e as demais leis relacionadas precisam ser fiscalizadas e as empresas infratoras, multadas.
Minha sugestão de antídoto para este tempo de Chronos que nos aprisiona e nos faz querer cortar caminhos e optar pelo mais prático é deixar-se levar pelo tempo fluido de Kairós e convidar seus filhos e filhas para momentos lúdicos dentro da cozinha. Aqui vai mais uma deliciosa receita para ser compartilhada em família!
Ingredientes
Modo de Preparo
Utensílios
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Fontes:
- Para saber mais sobre a legislação infantil acesse:
https://criancaeconsumo.org.br/relacoes-governamentais/legislacao-nacional/
- Para saber mais sobre embalagens de alimentos e os direitos do consumidor acesse:
https://idec.org.br/embalagem-ideal
*Ariela Doctors é chef, comunicadora e mãe.
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