Bebês e crianças precisam sim de colo, carinho, atenção, afeto e estímulos para crescerem saudáveis e felizes. São os alimentos da alma.
Rodrigo Moraes* Publicado em 09/11/2021, às 12h34
“Quando a mãe ou o adulto de referência alimenta o bebê pela primeira vez, esse primeiro choro se transforma em comunicação. A mãe interpreta, coloca palavras no desconforto do bebê, e o alimenta com leite e afeto. Satisfeita a necessidade, o afeto torna-se uma necessidade de amar vida afora. E assim começa a nossa interação com o mundo”
Com a beleza nas palavras, a psicanalista Anna Mehoudar apresenta a dimensão de uma combinação que é fundamental desde o primeiro segundo de vida do bebê – e que seguirá indispensável ao longo de toda sua formação: estímulo e afeto.
“O ser humano não sobrevive sem um outro humano de referência. Estímulo e afeto caminham juntos. Quando nasce, o bebê é visto, tocado, cheirado e escutado. Mas o olhar é diferente da visão e do funcionamento do órgão. O olhar se instaura como uma ferramenta da comunicação. Não se trata da maturação da coordenação viso motora, mas de uma dimensão relacional do olhar. O olhar é uma função psíquica. Começamos a existir olhando para os olhos de quem nos olha”, diz a psicanalista, fundadora do Grupo de Apoio à Maternidade e Paternidade (Gamp21).
A importância dos estímulos afetivos para o desenvolvimento da criança, no entanto, ainda não é fato reconhecido por todos. Há alguns anos, uma pesquisa realizada pela Fundação Maria Cecília Souto Vidigal em parceria com o Ibope Inteligência mostrou que a relevância atribuída a eles varia imensamente, a depender da faixa de escolaridade e renda.
Como comenta, no relatório final da pesquisa, a enfermeira especialista em saúde pública Anna Maria Chiesa: “é interessante notar que aspectos que são de fato relevantes, como carinho/afeto e rotina, são mais percebidos pelos responsáveis de maior escolaridade e renda”, uma indicação de que, uma vez asseguradas à criança as condições básicas de saúde e nutrição, as pessoas passem a ter maior percepção de outros elementos igualmente essenciais ao desenvolvimento pleno.
Para Nara Taccari Nogueira, porém, nunca houve dúvidas sobre a importância em dedicar a Davi, hoje com 6 anos, afeto e estímulos constantes. Psicóloga de formação, assim como Anna Mehoudar, ela conta que o desenvolvimento das crianças é um interesse que vem desde a faculdade, e que passou a colocar em prática antes mesmo do nascimento do único filho, ainda durante a gravidez.
Vivendo em Santos, no litoral paulista, ela conta que as brincadeiras merecem uma atenção constante por parte dela e do marido, o corretor de imóveis Christian Borges.
Juntos, eles até criaram uma estratégia especial para isso. “Durante a semana, meu marido fica mais com a parte do correr e pular, e eu tento trazer Davi para um universo lúdico, com pintura, leitura e jogos. Já nos finais de semana, saímos todos para atividades como correr na praia, andar de bicicleta e skate”.
A psicanalista Anna Mehoudar diz que essa disposição para dedicar um tempo exclusivo à criança é fundamental e traz grandes benefícios – inclusive para os adultos. “Precisamos escutar as crianças que não se satisfazem com os adultos pela metade... Metade com os olhos no celular, por exemplo. Elas pedem contato genuíno. E uma criança alimentada de presença e afeto é mais segura, encara desafios, brinca e aprende, comunica seu desconforto”.
Nara recorda um episódio em que percebeu que Davi estava com muitos medos. Atenta, notou que apenas as conversas com o filho não tinham resolvido a questão. Resolveu então comprar um livro infantil (Caraminholas na cachola, de Paula Furtado, Coleção Bem-Me-Quer), o que ajudou Davi a lidar melhor com a situação.
Eis uma excelente demonstração de escuta, afeto e estímulo: notar a demanda, acolhê-la e conduzir a criança através das novidades que se apresentam no dia a dia, ainda que em meio a um cotidiano sempre tão apressado.
Um bom exemplo disso foi o primeiro contato da reportagem com Nara. Combinada uma conversa mais detalhada para o dia seguinte, a mãe se despediu dizendo precisar correr, pois estava chegando em casa e, depois de ter passado o dia todo fora, ia jogar videogame com Davi.
Tema polêmico para muita gente, os eletrônicos não são um problema para Mehoudar. “Sabemos que os eletrônicos provocam comportamentos adictos em adultos e crianças, mas não dá para uma criança ficar à margem dos eletrônicos, por fora da cultura. Brincar com os eletrônicos deve caber na rotina da criança e do adulto também”, pontua a psicanalista.
Nara conta que essa é também uma grande preocupação em casa, tanto que na rotina da família existe uma regra: nas saídas para almoçar fora, tablets e celulares estão vetados.
Já durante a semana, ainda que nem sempre funcione, o objetivo é que os três estejam juntos no jantar. “É quando aproveitarmos para conversar e contar como foi o dia um do outro”, conta Nara. Ela e o filho também gostam de preparar alimentos juntos, como pão de queijo de batata doce.
Anna Mehoudar reforça a importância de momentos em que a atenção dos pais está inteiramente voltada aos filhos. “Precisamos lembrar que criança gosta de ser levada a sério, gosta de conversar, e ela vai construir a sua compreensão do mundo dependendo da sua idade”.
Entre as novidades dos tempos atuais, ela destaca também a importância da mudança de comportamento de muitos pais, como é o caso de Christian Borges, pai de Davi.
Por questões sócio-culturais, o afeto era protagonizado pela mulher. Mas isso vem mudando, alerta a psicanalista, para quem “os homens estão diminuindo distâncias afetivas com uma inteligência surpreendente e todos temos a ganhar quando o afeto, o cuidar, o educar e o olhar para o outro se manifestam para delimitar espaços e proximidades”.
Melhor para Davi e para todas as crianças que têm a sorte de contar com pais que os enchem de afeito e estímulos.
*Rodrigo Moraes é jornalista
**O Programa Nestlé por Crianças Mais Saudáveis é uma iniciativa global da Nestlé, que assumiu o compromisso de ajudar 50 milhões de crianças a serem mais saudáveis até 2030 no mundo todo. Desde 1999 foram beneficiadas mais de 3 milhões de crianças no Brasil.
Com o lema “muda que elas mudam”, a partir de uma plataforma de conteúdo, o programa estimula famílias a adotarem hábitos mais saudáveis e ainda promove um prêmio nacional que ajuda a transformar a realidade de 10 escolas públicas por ano com reformas e mentorias pedagógicas.
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