Em entrevista ao Papo de Mãe, a ginecologista Tatiana Provasi Marchesi explica as causas do aumento do congelamento de óvulos e como é o processo
Maria Cunha* Publicado em 23/06/2021, às 07h00
A pandemia da Covid-19 trouxe diversas incertezas. Em razão disso, muitos casais e mulheres que planejavam engravidar, optaram por adiar a decisão. Com isso, o congelamento de óvulos e embriões se tornou, ainda mais, uma opção para pensar numa gestação quando as coisas se acalmarem.
De acordo com a ginecologista e obstetra Tatiana Provasi Marchesi, nos últimos tempos, a procura por congelamento de óvulos já estava crescendo muito por conta da vontade das mulheres seja pela necessidade ou vontade de adiar a decisão sobre a maternidade
Além disso, a Dra. Tatiana Provasi Marchesi explica que o impacto da idade da mulher é importante em relação à fertilidade.“Diferente dos homens, a idade da mulher é algo que impacta na sua fertilidade, então ter o poder de adiar a decisão de ser mãe é algo vantajoso para muitas delas. A partir dos 35 anos, as taxas de fertilidade de cada mulher podem ser reduzidas, então quanto mais velha ela vai ficando, mais difícil fica de engravidar e maiores os riscos de aborto e malformações fetais”.
Diante disso e da necessidade das mulheres muitas vezes quererem primeiro estabilizar a carreira profissional, ou achar um parceiro ideal, ou encontrar o momento certo pra ser mãe, congelar óvulos se tornou uma opção atraente pra muitas.
Dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em dezembro de 2020, demonstram o aumento do número de mulheres que deram à luz mais velhas:
No geral, esses índices refletem o perfil de mulheres solteiras, com alto nível de escolaridade e que deixaram a maternidade para mais tarde.
A obstetra conta que, se até pouco tempo o congelamento de óvulos era uma opção pouco acessível, agora, cada vez mais, a prática se popularizarou e se tornou um tranquilizante.“Isso dá pra essas mulheres, pra esses casais, uma certa tranquilidade no sentido de adiar a decisão de ser mães ou deixar mais pra frente um pouquinho”.
Além disso, com a pandemia, as taxas de adiamento da gravidez e congelamento de óvulos aumentaram. “A gente está diante de uma pandemia de impacto pra população de grávidas e, engravidar nessa fase, se tornou algo, de certa maneira, mais arriscado. Então, apesar de não ser uma garantia de que se vá engravidar com os óvulos congelados, muitos casais e muitas mulheres têm adiado os planos para os próximos dois ou três anos”, explica a Dra. Tatiana Provasi Marchesi.
Assim, segundo a obstetra, uma mulher que quer engravidar daqui a três ou quatro anos, ou mais perto dos 40, terá as as chances de engravidar da idade de quando ela congelou esses óvulos.
“A quantidade e qualidade dos óvulos cai gradativamente ao longo da vida, mas, com a opção de congelamento, se eu tenho 40, decidi engravidar agora e usar os meus óvulos de quando eu tinha 33 ou 34, eu tenho óvulos de melhor qualidade. Então, isso é, de certa maneira, algo benéfico”.
A Dra. Tatiana Provasi Marchesi ainda lembra que o congelamento de óvulos é o uma opção para mulheres que queiram uma reprodução independente, que não queiram achar ou não tenham ainda um parceiro, uma parceira ideal.
“De repente, elas podem optar partir para uma reprodução independente, que também é uma opção e representa uma certa liberdade de escolha”, conclui a ginecologista e obstetra.
O valor do procedimento é bastante variável, variando de clínica para clínica. Em média, todo o procedimento (estimulação + coleta + congelamento) costuma custar entre R$ 15 mil e R$ 30 mil, além dos custos da manutenção dos óvulos congelados, uma mensalidade anual em torno de R$ 1.000.
Além disso, pacientes que estão passando por tratamento oncológico, dependendo, podem ter cobertura gratuita do congelamento pelo SUS.
A Dra. Tatiana Provasi Marchesi explica que o congelamento de óvulos é um procedimento seguro e feito em clínicas de reprodução assistidas e especializadas. No interior de São Paulo, a opção está disponível em grandes centros como Ribeirão Preto e Campinas, mas a abordagem inicial e avaliação das pacientes pode ser realizada por obstetras e ginecologistas de qualquer cidade.
“O processo também não é todo realizado em um único lugar. A aplicação de hormônios e ultrassons de controle, por exemplo, podem ser realizados localmente. O deslocamento para as clínicas geralmente só ocorre para a coleta dos óvulos. Procedimento que dura em torno de trinta minutos”, explica a obstetra.
A ginecologista conclui ao enfatizar que a evolução das técnicas de congelamento tem popularizado o processo para cada vez mais mulheres e a importância de discutir o tema é justamente conscientizar sobre essa possibilidade. “É muito importante que os profissionais da área sempre mostrem as suas pacientes todas as vantagens do procedimento”, finaliza a Dra. Tatiana Provasi Marchesi.
*Maria Cunha é repórter do Papo de Mãe