Hoje é o Dia Internacional do Câncer na Infância. Conheça algumas das atitudes para se ampliar globalmente os índices de sobrevida e cura no Brasil
Sidnei Epelman* Publicado em 15/02/2022, às 06h00
Assim como em países desenvolvidos, no Brasil o câncer já representa a primeira causa de morte (8% do total) por doença entre crianças e adolescentes de 1 a 19 anos. O Instituto Nacional de Câncer (INCA) estima que, para cada ano do triênio 2020/2022, sejam diagnosticados no país 8.460 novos casos entre crianças e adolescentes - 4310 em meninos e 4150 em meninas. Nos Estados Unidos, a expectativa é de 10.500 novos casos em 2021.
Os tumores mais frequentes na infância e na adolescência são as leucemias, os que atingem o sistema nervoso central e os linfomas.
Também acometem crianças e adolescentes o neuroblastoma (tumor de células do sistema nervoso periférico), o tumor de Wilms (renal), o retinoblastoma (tumor ocular), o tumor germinativo (das células que originam os ovários e os testículos), o osteossarcoma (tumor ósseo) e os sarcomas (tumores de partes moles).
Graças aos avanços no diagnóstico e tratamento nas últimas quatro décadas, hoje cerca de 80% das crianças e adolescentes afetados por câncer podem ser curados, se diagnosticados precocemente e tratados em centros especializados.
De maneira geral esse é um aumento considerável, se pensarmos que em meados da década de 1970, a taxa de sobrevida em cinco anos era de apenas 58%. Tal melhora, no entanto, não é uma realidade na maioria dos países de baixa e média renda onde, de acordo com a Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS), tal taxa é de aproximadamente 20%. E onde, de maneira geral, as condições econômicas limitam o acesso a profissionais, sistemas e tecnologias compatíveis com os mais atualizados recursos para o diagnóstico e o tratamento do câncer.
Estudo realizado em 2021 mostrou que no Brasil as taxas de mortalidade por câncer infantil são em média o dobro dos Estados Unidos, a despeito de os índices de novos casos por ano serem muito semelhantes nos dois países – 8 mil e 10 mil, aproximadamente. E ainda há aqui enormes desigualdades regionais, com concentração de altos índices de cura – acima de 80% – na região Sudeste.
Tais desigualdades, no entanto, podem ser superadas se houver uma proliferação dos pensamentos que regem os centros de maior sucesso. Pois é, sim, possível chegar a altos índices, se os recursos forem direcionados para as ações prioritárias para o diagnóstico precoce e assertivo e o encaminhamento correto para tratamento adequado e atualizado do câncer infantojuvenil.
Considerando-se que o país tem um sistema de saúde pública significativamente organizado e ainda o aporte de campanhas da iniciativa privada, no Dia Internacional do Câncer na Infância (15 de fevereiro), é bom lembrar algumas das atitudes fundamentais para se ampliar globalmente os índices de sobrevida e cura do câncer infantojuvenil no Brasil:
Escolher as batalhas e investir no que é fundamental e não no que pode ser perfumaria. Isso é o que resultará em mais vidas salvas. Essa é a nossa missão.
*Sidnei Epelman é especialista em Oncologia Pediátrica, Diretor do Departamento de Oncologia Pediátrica do Hospital Santa Marcelina-Itaquera em São Paulo e Presidente da Associação para Crianças e Adolescentes com Câncer TUCCA que, entre outras iniciativas, há 20 anos idealizou e lançou a Campanha de Diagnóstico Precoce do Retinoblastoma. Dr. Epelman é também membro do board do International Network for Cancer and Treatment Research (INCTR), que tem atuação global, inclusive na América Latina. É coautor do artigo “Melhorando o tratamento do Câncer em Crianças e Jovens 2”, publicado pela Revista Lancet em 2013, entre outros.
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