A colunista Renata Kotscho comenta sobre algumas cenas da novela Pantanal
Renata Kotscho* Publicado em 27/04/2022, às 06h00
“Fala nada, Muda”
Juma Maruá ficou tão impactada vendo a moderninha Guta “o que falta pra ela de roupa, sobra de abuso” e o Xóvem Joventino se comendo no ninhar do Pantanar, que temeu que a muda começasse a falar e estragasse a cena.
“Pareciam dois bichos, né muda?”
A nova versão de Pantanal é bem mais comportada em termos de nudez do que a versão original. As cenas de rala e rola, que acontecem em todos os capítulos, seja no Mato Grosso seja no Rio de Janeiro, são todas filmadas do pescoço pra cima. Na versão original da TV Manchete não era assim. A onça já aparecia pelada na abertura da novela, e dia sim dia não, alguma atriz pelo menos pagava peitinho em cena.
Além de mais comportada, a nova versão é também mais “ativista”. Para desgosto do pai, o peão com consciência social, José Leôncio, Xóvem joventivo é vegetariano. “Nada contra a agropecuária, mas eu não me sinto bem com maus tratos com os animais” alegou ao recusar um pedaço de churrasco feito em sua homenagem. É interessante como o roteiro quer falar do meio ambiente e do desmatamento mas não quer ofender o Agro que, além de ser pop, paga as contas.
Algumas licenças poéticas da ficção também são curiosas. José Leôncio não ter ao menos uma internet discada na fazenda hoje em dia para mandar um e-mail é difícil de acreditar. Não é possível que alguém viva sem PIX e Whatsapp no Pantanar hoje em dia.
Ou o vilão Tenório, numa interpretação estupenda do Murilo Benício, acreditar que a filhota Gutinha ainda era virgem depois de terminar a faculdade de engenharia civil na cidade grande, também é questão de muita fé.
Fato é que nada disso tira os grandes trunfos da novela que é o desejo animal dos personagens e a escolha dos atores, tanto na primeira quanto na segunda fase, que exalam talento e libido.
A menina que faz a Juma além de belíssima, entrega muito no papel de bicho do mato. Mas para completar o ativismo LGBTQIA+ da nova versão acho que poderia rolar umas cenas no rio entre ela e a Muda. Já o Xoven Joventino, que os peões chamam de frozô, cada capítulo eu acho menos feio.
E os diálogos são os melhores. Alguns exemplos dos meus preferidos:
Da Filó…
“E essa umazinha que você inventou de trazer aqui? O que está fazendo o perfume da irmã no quarto da teúda e manteúda?…Eu nunca tive ciúmes de homem nenhum nessa vida, não vai ser agora que eu vou ter ciúmes de hómi casado.”
Da Irma (a irmã talarica da Madeleine)
“Loucura foi a gente ter esperado tanto tempo para viver algo tão bonito, tão intenso”...”Foi o melhor erro da minha vida”...”mas eu quero que se repita”...”Eu te digo a verdade” (para a irmã) “Eu fui para o Pantanal sim só para dormir com o seu marido, e te digo mais, foi inesquecível”...”o que importa minha filha é que eu me diverti muito”.
Da Madeleine…
“Você é uma sonsa, você não tem a menor graça”.
Da Bruaca com a filha Gutinha
“E o cê acha que a vida da gente é ficar assim, sassaricando de um hómi pra outro, fia?”...”eu só servi ao seu pai nessa vida”
“Você fala como se a benção de Deus pudesse contra as safadezas do homem, né mãe?”
Da Gutinha (tendo que fazer de tudo para animar o Xóven Jove)
“A gente pode tomar um banho de rio sem roupa, a não ser que você tenha algum problema quanto a isso?” (fiquei com medo que ele dissesse não, pois estava sem camisinha vegana no bolso).
Fato é que Xóven Jove enfeitiçou-se mesmo pela muié que vira onça, Juma Maruá. Ao tentar ir sozinho atrás da moça, nosso Adão foi picado por uma cobra e agora está entre a vida e a morte aos cuidados da onça e da sucuri. Mas vai ficar tudo bem. Até semana que vem.
*Renata Kotscho é noveleira e fofoqueira te convida para assistir e fofocar sobre Pantanal. Tem 3 filhas adolescentes.
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