Ano passado não tivemos festas nem comemorações. E mesmo agora, cuidados ainda são necessários
Helen Mavichian* Publicado em 25/12/2021, às 07h00
Muito já foi falado sobre o "novo normal". Mesmo assim, se essa realidade ainda causa angústia em nós, adultos, imagine nas crianças! Por mais incômodo que seja, precisamos pensar em como o isolamento social e o medo de adoecer afetaram nossos filhos até aqui. Só assim, poderemos ajudá-los nessa transição para o retorno à vida social. Principalmente com a proximidade dos encontros familiares, das festas e das férias.
De acordo com o levantamento do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), 1 em cada 7 crianças foi diretamente afetada por lockdowns no mundo, enquanto mais de 1,6 bilhão de crianças sofreram alguma perda relacionada à educação. E há consequências. Ansiedade, fobia social, dificuldade de lidar com as frustrações, maior apego aos pais e atraso no desenvolvimento da inteligência emocional são as principais.
Por isso é muito importante redobrar a atenção nesse momento e os pais devem ser facilitadores. Demonstrar, por exemplo, estar aberto e interessado no que acontece no dia a dia da criança, para que ela mesma conte o que está acontecendo — se está se sentindo à vontade ou não. E se for necessário, pedir a ajuda da escola e do psicólogo.
Não podemos esperar dos nossos pequenos o mesmo carisma, simpatia e "educação" de antes. Talvez eles não consigam beijar o tio que não viram nesse período, ou brincar com a prima. Aquela criança que sempre fazia amizade no hotel pode ficar mais "bicho do mato". Isso é normal e aceitável.
É difícil lutar contra as telas de todos os tamanhos — de celulares, tablets, computadores e televisão. A verdade é que todos nós nos rendemos aos aparelhos durante a pandemia. Para dar uma ideia, segundo o relatório Digital in 2020, o tempo dos brasileiros jovens e adultos conectados à internet no primeiro ano da pandemia foi de 9h17min. Antes da pandemia, essa média era de 6h43min.
No caso das crianças, a situação não é diferente. A pesquisa “Panorama Mobile Time/Opinion box – Crianças e smartphones no Brasil” preocupa, pois aponta que a proporção de crianças de 7 a 9 anos que usam o smartphone por três horas diárias ou mais saltou de 30% para 43% em um ano.
Além dos prejuízos para o desenvolvimento mental, a utilização prematura de aparelhos tecnológicos também pode causar danos no desempenho escolar e na área do cérebro responsável pela aprendizagem e assimilação de novos conteúdos.
Antes de simplesmente proibir o uso excessivo dos aparelhos, será melhor entender o quanto isso é difícil para uma criança que ficou em isolamento social, longe da escola — muitas vezes, tendo as séries e os games como seus únicos companheiros. Assim, em vez de usar da autoridade de mãe e pai, vocês podem oferecer alternativas para equilibrar o tempo com a tecnologia.
É essencial que os pais se conscientizem da importância de os pequenos vivenciarem ao máximo o lado lúdico da infância. E o período de férias pode ser uma ótima oportunidade para isso. Para inspirar pais e mães, criei uma lista com algumas dicas para preencher de um jeito saudável o período das férias. E, ao mesmo tempo, ajudar as crianças nessa transição.
1 - Visite parques e lugares que tenha natureza;
2 - Faça um piquenique;
3 - Monte uma cabana dentro de casa;
4 - Promova sessão de cinema entre a família;
5 - Entre em um clube de leitura;
6 - Crie uma peça de teatro;
7– Passeios de bicicleta podem ser ótimas opções também;
8 - Faça sanduíches e um bolo juntos;
9 – Cultive uma planta e acompanhem o crescimento.
Falar sobre a nova realidade de uma forma simples, que a criança entenda, é papel dos pais. Reforce os cuidados necessários, como lavar as mãos, usar álcool em gel e máscara, quando estiver em lugares públicos. Mescle essas conversas com combinados entre pais de colegas da escola, familiares ou vizinhos para organizar encontros ou programas.
Nesse processo, a convivência com outras crianças será essencial. A forma que irá acontecer vai depender da rotina de cada família. O importante é não colocar os filhos em uma "bolha" ou, ao contrário, forçar a convivência. Buscar esse equilíbrio vai ser tão benéfico para as crianças quanto para os pais. E a vida no novo normal vai ser mais leve.
* Helen Mavichian é psicoterapeuta especializada em crianças e adolescentes e Mestre em Distúrbios do Desenvolvimento pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. É graduada em Psicologia, com especialização em Psicopedagogia. Pesquisadora do Laboratório de Neurociência Cognitiva e Social, da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Possui experiência na área de Psicologia, com ênfase em neuropsicologia e avaliação de leitura e escrita.