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Saúde mental materna na pandemia: mulheres são o grupo mais vulnerável

Aprender a preservar os sentimentos positivos em tempos de pandemia é um cuidado protetivo ainda mais urgente para manter a saúde mental

Kênia Braga* Publicado em 11/02/2021, às 00h00 - Atualizado em 16/02/2021, às 11h55

Compreender nossa natureza humana, sempre foi importante para a vida de uma mãe, para administrar a culpa, o perfeccionismo e as neuroses, no entanto, aprender a preservar os sentimentos positivos em tempos de isolamento, é um cuidado protetivo urgente - Pexels/Rodnae Productions
Compreender nossa natureza humana, sempre foi importante para a vida de uma mãe, para administrar a culpa, o perfeccionismo e as neuroses, no entanto, aprender a preservar os sentimentos positivos em tempos de isolamento, é um cuidado protetivo urgente - Pexels/Rodnae Productions

Em um momento de exposição a agentes estressores, que desafiam respostas emocionais e comportamentais complexas, é preciso buscar um equilíbrio para manter a saúde mental.

Algumas mães entram num estado de tensão, ansiedade – preocupação – medo, e necessitam desenvolver habilidades para se auto tranquilizarem. Algumas alternativas como a meditação, higiene do sono, alimentação saudável, rotina com prazeres e descanso, vida social através da tecnologia, são de grande importância. Manter a presença no agora e o equilíbrio exigem muito autoconhecimento e gerenciamento emocional, a psicoterapia está no topo das estratégias para ensinar o autodomínio, o gerenciamento de crenças disfuncionais e gerar novos repertórios mais funcionais para a saúde materna.

É preciso compreender as maneiras de minimizar os impactos emocionais ocasionados por mudanças na rotina, filhos fora da escola e monitoramento das aulas on-line, funções domésticas aumentadas, dificuldades para lidar com o home office, conflito familiares, falta de entretenimento e vida social prejudicada. Como se não bastassem todas estas variáveis que interferem na saúde mental feminina, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), as mulheres são o grupo mais vulnerável a problemas de saúde mental durante a pandemia, sendo assim, as mães, gestantes e puérperas, ficam ainda mais suscetíveis a quadros de psicopatologias.

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Muitas destas mães, trabalham em home office e enfrentam muitos desafios com as crianças em tempo integral; algumas perderam o emprego e sobrevivem de auxílios do governo. Segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), 91% das mulheres afirmam desenvolver tarefas domésticas, apenas 55% dos homens dizem que cuidam do lar, o que é resultado de uma sobrecarga física e emocional das mulheres, mediante a comportamentos sociais disfuncionais e preconceituosos em favor de um trabalho reprodutivo, não remunerado, desapercebido e desvalorizado.

Mesmo que não haja evidências científicas de que a infecção pelo novo coronavírus funcione de maneira diferente na gestação, grávidas e lactantes necessitam receber uma atenção diferenciada e encontram-se mais ansiosas e alarmadas.

Como está sua saúde mental?

Imagem mostra rosto de uma mulher branca com máscara de proteção com estampa azul de bolinhas brancas
Mães: cuidado com a saúde mental

O momento é propício para a busca do autoconhecimento, pois ele deflagra muita fragilidade e vulnerabilidade que necessitam de uma pausa analítica, reflexiva… a reflexão é um instinto natural do ser humano que o auxilia a realizar ações mais conscientes e saudáveis. Para conquistar um bom gerenciamento das emoções, além do autoconhecimento é importante reduzir estímulos estressores, pois são muitos os medos, preocupações e desafios que já se fazem presentes.

Diminuir a exposição às notícias negativas e personalizar os feeds de redes sociais para conteúdos que promovam bem-estar e aprendizados, ajudam na auto-regulação. Quando você sente medo, o cérebro magnetiza com este sentimento porque ele é construído para solucionar problemas. Definir um tempo e horário para se preocupar com algo é uma estratégia importante da terapia cognitivo comportamental.

Também é essencial compreender como estes medos interferem na qualidade de vida, o quanto a saúde mental está sendo afetada, e inclusive entender o quanto tudo isso irá impactar também na relação com o parceiro, nas relações sociais e na saúde física da mulher e filho; para buscar ajuda no momento certo e reduzir as chances dos quadros de psicopatologias graves.

O autoconhecimento e a percepção de suas crenças e limitações, são fundamentais para a saúde emocional da mãe; um processo psicoterapêutico pode ditar a diferença entre uma gravidez e maternidade segura e problemas emocionais como depressão, ansiedade, pânico; dentre outras psicopatologias que podem ser deflagradas na gestação e puerpério, principalmente neste momento ansiogênico. Quando uma mãe esta na cadeira de psicologia para aprender a colocar prioridade em sua saúde mental ela se sente bastante culpada quando questionada sobre o tempo de qualidade com os filhos e demonstra muitas objeções para conquistar uma vida que valha a pena ser vivida, com autocuidado e tempo para si mesma.

Para manter a saúde mental, a identificação precoce da presença de fatores de risco para a depressão no pós-parto entre outras psicopatologias é fundamental. Quando o estresse aumenta, automaticamente abandonamos nossas práticas de autocuidado, no entanto, é neste momento que precisamos exercer nossa autoconsciência e priorizar práticas positivas, dedicando todos os dias a fazer algo que nos faça sentir bem, seja ler um livro, praticar um esporte, ouvir música, fazer vídeo-chamada com amigos, praticar a higiene do sono, alimentar-se com consciência.

É essencial que a mãe esteja consciente de fatores preditores e busque a psicoterapia para conseguir para aprender estratégias emocionais e comportamentais para prevenir os quadros depressivos e ansiosos, quando estas estratégias de pilares de saúde não forem suficientes para manterem a qualidade de vida.

*Por Kênia Braga, diretora e fundadora da VIVAPLENA – Saúde Mental Clínica e Corporativa.
www.vivapleno.com.br

Instagram : @vivapleno

Confira a entrevista com o psiquiatra Rodrigo Bressan, do Instituto Ame Sua Mente, sobre saúde mental na pandemia:

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