Uma entrevista com Elisama Santos, psicanalista, autora do livro "Educação Não Violenta"
Mariana Kotscho* Publicado em 17/10/2021, às 17h43
Gritar, castigar, chantagear, bater. Nada disso funciona quando o objetivo é educar um filho ou filha. Pais e mães ficam nervosos, é verdade, mas é preciso ter sempre consciência de quem é o adulto na relação com as crianças, inclusive para admitir erros e pedir desculpas.
Não é a toa que a psicanalista e escritora Elisama Santos publicou os livros "Educação Não Violenta" e "Porque gritamos". Ela explica que é possível encontrar um caminho para criar nossas crianças sem violência, sem agressividade. E vai de acordo com a idade, inclusive o tipo de "conversa".
A gente foca em não errar, mas quando erra precisa assumir o erro e não pode jogar a culpa na criança". (Elisama Santos)
O diálogo com as crianças é sim possível e dá resultado. Numa educação não violenta, castigo e punição não são uma opção. A conversa funcionar não quer dizer que a criança vai entender tudo, explica Elisama, muito menos que a criança vai concordar.
É preciso ajudar a criança a entender a frustração, conversando e explicando. Os pequenos precisam desenvolver a responsabilidade pela responsabilidade e não porque vão ganhar algo em troca: "A educação não é a curto prazo. Se a gente ensina chantagem emocional, ela vai aprender a se relacionar fazendo chantagens no futuro", alerta Elisama.
Se os pais gritam, entram no modo de "caos", tudo vira raiva, culpa, frustração e se torna um ciclo. "O grito é uma ferramente desesperada", resume a psicanalista.
Elisama explica que tem um momento em que é preciso parar de argumentar. O diálogo com filhos inclui um momento em que não cabe mais negociação: é encerrar o assunto e dar a ordem. "É um diálogo de iguais na dignidade, no respeito, mas não de iguais na experiência, na responsabilidade, no preparo psicológico". Assim, pais e mães assumem seu lugar de adultos, de pais e mães, como deve ser.
A criança precisa sentir a segurança de um adulto". (Elisama Santos)
Ainda de acordo com Elisama, birra é uma demonstraçao emocional da criança, ela não faz isso para desafiar os pais, são emoções com as quais ela não dá conta de lidar e mostra que precisa de uma ajuda. Não é para enfrentar os adultos, muito menos para "manipular". Uma dica, diz Elisama, é nomear os sentimentos da criança e oferecer colo, como "entendo que você está chateado", "entendo que você está triste".
Os clássicos da birra são os escândalos em shoppings, lojas, restaurantes, lugares públicos. Mas a birra também acontece dentro de casa. Na hora de comer, por exemplo, a birra também pode tirar todos do sério, assim como na hora de escovar os dentes. Muitas vezes vira uma "briga de poder" entre a criança e os pais. Paciência, respirar fundo. E não adianta o adulto agir como criança ou esperar que ela vá agir como um adulto.
Elisama finaliza explicando que a criança ameaçada ou agredida paralisa por causa do medo e isso não é saudável. Não quer dizer que ela entendeu ou obedeceu. Por isso a educação não violenta é o melhor caminho.
*Mariana Kotscho é jornalista