As crises epilépticas ocorrem devido a uma descarga elétrica excessiva das células do cérebro
Dra. Maria Luiza Giraldes de Manreza* Publicado em 23/11/2020, às 00h00 - Atualizado em 05/01/2021, às 11h28
A epilepsia é uma doença neurológica crônica caracterizada por crises epilépticas recorrentes e suas consequências cognitivas, psicológicas e sociais. Sem prevalência de sexo, a doença atinge de um a 3% da população mundial. No Brasil, a quantidade de pessoas com a patologia fica entre 1,8 a 3,6 milhões.
As crises epilépticas ocorrem devido a uma descarga elétrica excessiva das células do cérebro. Esta descarga pode vir de um grupo de células levando a crise dita focal. Nessa crise a manifestação clínica depende da área do cérebro em que a descarga ocorre. Outras vezes a descarga atinge todo o cérebro e a crise é dita generalizada.
As causas da epilepsia são muitas. Na infância uma das mais comuns é a falta de oxigênio na hora do parto. Além disso, podemos lembrar infecções do sistema nervoso, traumas, tumores do sistema nervoso entre outras. Atualmente uma etiologia que embora não seja muito comum, mas sempre deve ser lembrada porque pode mudar o tratamento é a genética.
O tratamento da epilepsia é feito principalmente com medicamentos ditos anticrises. De modo geral se inicia com monoterapia, ou seja, apenas um medicamento e se não houver controle das crises são duas as possibilidades seguintes: a troca para um outro medicamento é a segunda monoterapia; ou a associação de um ou mesmo mais medicamentos, é a politerapia. Quando as crises epilépticas não forem controladas com dois fármacos em doses máximas, a epilepsia é considerada refratária. Adultos e crianças com epilepsia refratária devem ser encaminhados a centros especializados em epilepsia para avaliar a possibilidade de tratamento cirúrgico.
Além de tratamentos com medicamentos anticrises, alternativas terapêuticas ajudam no controle das crises, como a dieta cetogênica, o estimulador do nervo vago e o estimulador cerebral profundo. Em casos muito específicos, outros métodos podem ser utilizados como o remédio canabidiol, imunomoduladores (corticoide, rituximab, imunoglobulina)
Com o uso adequado do fármaco anticrises é possível controle das crises epilépticas em até 70% dos casos. No entanto, para se ter sucesso no tratamento é importante a colaboração do paciente. O remédio deve ser tomado diária e corretamente é o que chamamos de “adesão”.
O tratamento contínuo, às vezes com dois ou mais tipos de remédios e em diferentes horários por longos períodos são mais difíceis de serem feitos de modo correto. Mas o controle das crises depende disso. Nessa tarefa é muito importante o auxílio da família especialmente em crianças ou em pacientes com limitação cognitiva. Mesmo em adultos sem limitações é importante o apoio familiar por vezes lembrando os horários, auxiliando na aquisição dos medicamentos ou mesmo apenas estando presente.
Lembre-se, a epilepsia na maioria das vezes tem controle permitindo uma vida plena, mas para isso é importante que se siga corretamente a orientação do médico.
*Dra. Maria Luiza Giraldes de Manreza, neurologista infantil. Médica supervisora da Clínica de Neurologia da FMUSP. Graduada em Medicina pela Universidade de São Paulo e doutorado em Neurologia pela Universidade de São Paulo.