Papo de Mãe
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Liberdade, Igualdade, Fraternidade e Sororidade. Hora da revolução feminina

Políticas públicas: o pediatra Moises Chencinski alerta sobre a falta da representatividade feminina em temas relacionados a mulher

DR. MOISES CHENCINSKI* Publicado em 14/02/2022, às 17h42

"O seio materno precisa ocupar seu espaço", Dr. Moises Chencinski
"O seio materno precisa ocupar seu espaço", Dr. Moises Chencinski

Começando aqui com dois textos que parecem tão distantes, tão distintos, mas que se fundem, têm suas semelhanças, trazem reflexões e... chega de papo.

"Em torno deles a liberdade feliz do domingo punha alegrias naquela tarde. Mulheres amamentavam o filhinho ali mesmo, ao ar livre, mostrando a uberdade das tetas cheias. Havia muito riso, muito parolar de papagaios; pequenos travessavam, tão depressa rindo como chorando; os italianos faziam a ruidosa digestão dos seus jantares de festa; ouviam-se cantigas e pragas entre gargalhadas."

"Mas como é possível dar um corpo a alguém? Todos sabemos que o corpo existe, mas sabemos intelectualmente. Só nos lembramos dele quando surge algum problema, alguma dor, uma febre. Para acordar esse corpo é preciso desestruturar, fazer que a pessoa sinta e descubra a existência desse corpo. Somente aí é possível criar um código pessoal, não mais aquele código que me deram quando nasci e que venho repetindo ...desde então.

Mas não posso esquecer que estou trabalhando com seres humanos, não com bailarinos, ou esportistas ou professores, ou donas-de-casa... O que busco, então, é dar um corpo a essas pessoas, porque elas têm coisas a dizer com seu corpo. Por isso não faço qualquer proposta de movimentos que não tenham aplicação na vida diária. Quero que o trabalho seja simples e natural.”

O primeiro é um trecho de O Cortiço, de Aluísio Azevedo (Capítulo 14, página 162 - 1890 - recomendo).

Os dois trechos seguintes são do livro A Dança, de Klaus Viana (páginas 77 e 146 – 2.005).

Assista ao Papo de Mãe sobre os direitos da mulher que é mãe.

Mas o que eles têm em comum?

Falam sobre conhecimento e reconhecimento do próprio corpo, na simplificação, naturalização e normalização da amamentação, do seio.

A cultura do aleitamento materno sofre influências desde sempre e, a maior parte das vezes, ditada por uma sociedade “masculina” e “machista”, que parece absolutamente desconhecer a anatomia, o funcionamento, as características do seio sob qualquer outro ponto de vista que não seja sua sexualização.

O seio materno precisa ocupar seu espaço. E sua representatividade precisa incluir e transpor a díade mãe-bebê.

No lançamento oficial da Semana Mundial de Aleitamento Materno em 2.021, com o tema: "TODOS PELA AMAMENTAÇÃO. É PROTEÇÃO PARA A VIDA INTEIRA", em cerimônia realizada pelo Ministério da Saúde, não é possível não perceber o absurdo da não representatividade da mulher no evento. Entre todos os participantes da mesa de abertura, presencial ou virtual, estiveram presentes apenas duas mulheres (a coordenadora geral de Saúde da Criança e Aleitamento Materno, Janini Selva Ginani, e a representante da Organização Panamericana de Saúde - Opas, Socorro Gross) no meio de um “mar de testosteronas”.

A presença e a relevância da mulher nas políticas públicas em temas como gravidez, parto, amamentação, violência doméstica, educação são inquestionáveis. Como podemos aceitar que “principalmente” homens definam os rumos da saúde materno-infantil?

Essa transformação é necessária, está em andamento, mas ainda é insuficiente. É preciso informar sobre o conhecimento de seu próprio corpo, no ensino desde a pré-escola até a pós-graduação, na naturalização da amamentação, na participação política, no basta contra violência e morte, no esmagamento dos preconceitos, na aniquilação das desigualdades socioeconômicas, na defesa do significado real de justiça, igualdade, equidade para cada uma e um e para todos.

Amamentação em público é protegida por lei em várias localidades, infelizmente ainda não vigente como lei no território nacional. Mas, mesmo assim, vemos, diariamente, transgressões impunes a essa ação, mesmo onde a lei existe.

“Meu corpo, minhas regras”. Campanha lançada pelo coletivo feminista (Feminismo sem Demagogia) e retomada de tempos em tempos. Violência sexual (entre elas, estupros) e feminicídio estão aí e as estatísticas mostraram aumento no número de denúncias em 2.021 (especialmente no primeiro semestre).

Veja também: 

Sim, isso tudo requer tempo! Então, o que estamos esperando para agir, efetivamente, por mudanças nas políticas públicas, na educação, na saúde, nas condições legislativas, na representatividade?

*Dr.  Moises Chencinski , pediatra e homeopata.

Membro do Departamento Científico de Aleitamento Materno da Sociedade Brasileira de Pediatria (2016 / 2019 – 2019 / 2021).
Autor dos livros HOMEOPATIA mais simples que parece, GERAR E NASCER um canto de amor e aconchego, É MAMÍFERO QUE FALA, NÉ? e Dicionário Amamentês-Português
Editor do Blog Pediatra Orienta da Sociedade de Pediatria de São Paulo.

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