A alfabetização pela internet está afetando o aprendizado da nova geração
Emanoel Ceress* Publicado em 01/06/2022, às 07h44
Vamos conceber hoje a ideia de que por alguma razão futuros poetas e escritores fossem impedidos de aprender a ler e escrever. Em seus caminhos surgissem barreiras, como em um jogo mobile, que os desviassem da única via que levaria ao aprendizado.
Assim foi o advento da COVID-19, o trágico acontecimento que neutralizou o já defasado processo de alfabetização, manejado pelos sistemas públicos de ensino brasileiros. Embora a deficiência no processo já ruminasse desde a democratização do ensino na década de 40, nunca operou de forma tão estagnada quanto diante do nascimento prematuro do alfabetizar online. Era o mesmo que fazer pulsar uma educação em coma, sem maca, sem respirador, e sem médicos, assim como ocorreu com as pessoas na tentativa de atendimentos em hospitais.
A educação também estava doente, sem alcançar acesso aos meios necessários para fazê-la funcionar. Escancarava-se a desigualdade social aumentando ainda mais a espessa fenda entre o hoje tecnológico, e como numa espécie de multiverso, a parte do presente deixada para trás; conduzida por um movimento retrógrado que suprimiu e suprime, de milhares de crianças, o acesso ao Saber. Dados do IBGE apresentam um crescimento de mais de 66% no número de indivíduos não alfabetizadas entre 6 e 7 anos, nos primeiros dois anos da pandemia.
Embora o retorno do mundo produtivo venha divulgando os números das perdas, e lançando novas estratégias de crescimento econômico, projetos de “vacinas” para imunizar a educação pública de intercorrências vão na contramão da economia. Parecem continuar congelados nos laboratórios das secretarias de educação, impróprias para consumo. Na Era 5G, a falta de acesso à dimensão tecnológica tende a ampliar discrepâncias sociais e tornar irreparável o tempo perdido, promovendo um processo de alfabetização tardio, insuficiente enquanto base escolar e pouco efetivo para desenvolvimento de novas habilidades cognitivas.
Dessa forma, a via de acesso à fluência de leitura e escrita é conhecida e pode ser percorrida com recursos de adaptabilidade às novas condições de ensino e aprendizagem, atualizadas com o mundo tecnológico. A superação de um processo educacional letárgico é o meio para mediar o desenvolvimento das habilidades linguísticas, necessárias para uma formação cidadã, autônoma e relacionada ao mundo da informação. É o desenvolvimento da denominada learnability, condição do aprender a aprender, que conduz o indivíduo à abertura ao conhecimento necessária à recuperação de todo o tempo perdido.
*Emanoel Ceress é Emanoel Rodrigues da Silva, intérprete de língua inglesa, professor de inglês no Gran Cursos Online, especialista em Linguística Aplicada e em Psicopedagogia. Professor de inglês e também tem um canal no youtube.