Sandro “Testinha”, da ONG Social Skate, fala sobre o sucesso do esporte nas olimpíadas e na vida de crianças e adolescentes carentes
Roberta Manreza e Maria Cunha* Publicado em 22/11/2021, às 14h24
O skate acabou de ser incluído nos jogos olímpicos e já fez o maior sucesso nas Olímpiadas de Tóquio. Quem vai falar sobre o esporte com o Papo de Mãe é o Sandro “Testinha”, um dos fundadores da ONG Social Skate, que atende crianças e adolescentes carentes em Poá, na Grande São Paulo. Sandro começa o bate-papo dizendo o quanto o skate é legal e chega influenciar até hoje o que a “galera” quer consumir como alimento: “Para se manter mais, cada vez mais e melhor em cima do skate, tem um universo gigante, que agora está bem ao alcance de todos até pelo “lance” das olimpíadas, que foi super positivo, pela Rayssa Leal, conhecida como a “Fadinha”, que a gente já conhece há muitos anos”, explica o skatista.
Sandro conta que, realmente, Rayssa apresentou o skate de uma forma diferente para todo mundo. “Quando eu falo para todo mundo é o mundo todo, mesmo, por que ela ganhou o prêmio de Espírito Olímpico do Comitê Olímpico Internacional com aquele carisma dela”, afirma “Testinha”.
Rayssa, Kelvin Hoefler e Pedro Barros fizeram bonito. Sandro diz que tem 43 anos de idade e há 30 anos anda de skate. Desde 1991. “Eu posso dizer que vi toda essa geração nascer e tive contato com eles todos ainda quando crianças, por que o universo do skate é bem unido, uma “galera” que está sempre se encontrando. E a gente já esperava. Para nós que andamos de skate, que acompanhamos eles, já era “spolier” (previsto), a gente até brinca, né? A gente esteve um tempo atrás, há umas duas semanas, com a Raíssa, as meninas da ONG foram encontrar com ela em uma pista em São Paulo, e a gente brincou, a gente tem mais intimidade: ‘Legal tudo isso, mas cadê o ouro, a gente quer o ouro?’”, revela ele. Segundo “Testinha”, todos deram risada, imagina, a primeira vez que o esporte participa e já trazer medalha, poderia ser bronze, prata. E acrescenta fazendo um alerta: “Os que foram lá, é sempre bom lembrar, que não conquistaram medalha, mas representaram muito bem o Brasil com o skate”.
Sandro lembra do nome da entidade, da ONG, que é Social Skate. Esse nome, segundo ele, quase surgiu por acaso, dentro do trabalho, há dez anos, por conta de acreditarem que o skate é social por si próprio. Para “Testinha”, ele já é um esporte social. Ele analisa: “Quando eu vou trocar as rodas do skate por outras novas e elas estão boas ainda, eu vou passar elas para alguém. Isso é normal, é natural do skate. Mesma coisa com o eixo, mesma coisa com o shape, então, o skate já é isso. Isso acontece no dia a dia”. Para o skatista, a exposição de uma olimpíada é a maior que tem e quando o esporte chega lá e faz isso: “A adversária, no caso a Rayssa, acalentando a menina que não ganhou e um ajudando o outro que caiu a levantar, para o público que está acostumado com o esporte que a rivalidade fala mais alto, você não vai ver isto no skate”.
Sandro conta acreditar que criou a ONG – ele que andou com essa “galera” toda que começou a abrir as portas para o skate para o mundo, o skate brasileiro para o mundo, da sua mesma geração – porque não conseguia acompanhar o ritmo, a evolução técnica como desses rapazes fora de série e percebeu que não ia ser skatista profissional. “Que nem eles, eu quis fazer algo legal, que gostasse”, diz. Sandro foi se apresentar em uma instituição de jovens que estavam privados de liberdade, por atos infracionais, era a antiga Febem, hoje a Fundação Casa, e lá pensou que eles poderiam estar fazendo outra coisa, que o esporte, o skate que é convidativo e que tem muita cultura: música e visual que o jovem adora. Em 2011, revela, iniciou a parceria de trabalho com a pedagoga Leia Vieira. Eles pensaram em montar a ONG, mas com um cunho educacional. O esporte mais educação. Criaram há dez anos. Começaram na rua, com uma rampa e um monte de crianças.
A Rayssa, além da medalha nos jogos olímpicos, ganhou também o prêmio internacional de espírito olímpico. Ela venceu a disputa por voto popular e o valor em dinheiro será doado para a ONG. “Ela escolheu a Social Skate para a doação. Fomos pegos de surpresa”, diz. Sandro explica que já tem um plano para quando o dinheiro chegar. Se o valor for suficiente para adquirir mais um imóvel na comunidade, eles vão montar salas de aula para dar reforço escolar e criar um espaço para as mães também terem uma atividade, com cursos profissionalizantes. “É que nem os estudantes falam aqui, começa no esporte, no skate, mas ele vai além, ultrapassa obstáculos, rompe barreiras e pode atingir toda uma comunidade, acho que isso é a magia do skate”, conclui.
Sandro diz que eles conseguiram atingir um objetivo de atender bem a criançada, a comunidade, e a criançada começou a perguntar muito, eles viram as olimpíadas e viram o nosso “Dream Team” (time dos sonhos) brasileiro em ação, e eles ficam curiosos em saber a origem disso tudo. Para “Testinha”, ainda tem skatistas bons, que ajudaram a “pavimentar esse caminho”, que não estão no nível de competir uma olimpíada, mas esses campeonatos aqui no Brasil, eles podem estar perto, então a gente montou uma equipe de atletas profissionais, excelentes skatistas, alguns com 45 anos de idade. A gente conseguiu juntar essa “galera” que estimula todas as idades”. Toda a divulgação desse trabalho está no site e nas redes sociais da ONG Social Skate. No “Socializando”, eles vão para campeonatos e dá para conhecer, dá para socializar.
Equipamentos de segurança em primeiro lugar. Sandro sugere procurar os mais de 50 projetos sociais com skate. “A olimpíada também deu essa visibilidade para conseguirmos mapear, a gente conseguiu mapear junto com a Confederação Brasileira de Skate, a maioria dos projetos sociais com skate no Brasil”, revela com orgulho. A lista está no site da Confederação Brasileira de Skate. Através do mapa, a pessoa pode procurar se existe um projeto por perto. “Testinha” afirma que todos os projetos sociais usam equipamentos de proteção e têm monitores. “A dica principal é procurar um projeto social com skate. Além de participar, você pode colaborar com o projeto. Existem diversas maneiras. São engrenagens que girando juntas vão fazer surgir mais Fadinhas, mais Kelvins e vão surgir mais Pedros, que já estão por aí, só faltam ser encontrados”, finaliza um dos fundadores da ONG.
No último dia 5 de novembro, a Fundação Nestlé revitalizou a horta comunitária localizada próxima à ONG Social Skate, capacitou voluntários e organizou a primeira colheita coletiva. Em parceria com a Blend Inspire, responsável pelo desenvolvimento do projeto, aconteceu a colheita da horta em uma ação especial com a comunidade. Adultos e crianças da ONG participaram do evento que reservou uma série de atividades, como tour na horta, preparo de alimentos com os adultos e para as crianças a “corrida dos legumes”, uma brincadeira para estimular o reconhecimento dos alimentos in natura e aguçar a curiosidade a respeito de cada um. A revitalização da horta foi comandada pela equipe do Pé de Feijão, negócio de empreendedorismo social que tem como propósito transformar a relação das pessoas com a comida, promovendo a reconexão com os alimentos por meio de hortas urbanas.
O terreno, que hoje acolhe a horta, era local de descarte de lixo. “Para nós da ONG é muito importante essa conscientização em relação não somente à alimentação, mas ao nosso local. É necessário tanto para as crianças, quanto para os adultos, para que sintam ainda mais pertencentes à comunidade”, comentou Sandro.
Desde o início do projeto, mais de 150 famílias foram envolvidas na ação, que tem como objetivo tornar a horta autossustentável, impactando diretamente a vida delas. Toda a ação está sendo documentada pelo diretor e skatista Ronaldo Land, que por meio de imagens capta as principais realizações na horta. Confira aqui o episódio 01, que registrou o plantio das primeiras mudas: “Um blend de Propósito”.
@ongsocialskate
*Roberta Manreza e Marinha Cunha são repórteres do Papo de Mãe
**O Programa Nestlé por Crianças Mais Saudáveis é uma iniciativa global da Nestlé, que assumiu o compromisso de ajudar 50 milhões de crianças a serem mais saudáveis até 2030 no mundo todo. Desde 1999 foram beneficiadas mais de 3 milhões de crianças no Brasil.
Com o lema “muda que elas mudam”, a partir de uma plataforma de conteúdo, o programa estimula famílias a adotarem hábitos mais saudáveis e ainda promove um prêmio nacional que ajuda a transformar a realidade de 10 escolas públicas por ano com reformas e mentorias pedagógicas.
Conheça mais no site do programa