Saber sobre as modalidades e qual skate deve ser comprado pode evitar acidentes
Sabrina Legramandi* Publicado em 03/08/2021, às 15h05
Depois de Rayssa Leal, certamente muitos pais já devem ter ouvido seus filhos pedindo um skate. A partir do dia 26 de julho, a procura pelos termos “skate” e “aulas de skate” atingiram uma de popularidade que há muitos anos não era vista. Segundo o Google Trends, site que mostra as tendências de pesquisa, os dois termos atingiram o índice de 100 – valor que indica o pico de popularidade de determinado assunto.
“No dia seguinte da conquista da Rayssa, a busca pelas aulas de skate triplicaram – tivemos até que aumentar a nossa equipe”, conta Marcio Tanabe, skatista profissional e proprietário das SkateCity, escolas e pistas particulares em São Paulo.
Mas, para quem ainda não está familiarizado com o esporte, o desconhecimento pode dificultar a prática e, até mesmo, provocar acidentes. “Durante a última semana, a quantidade de acidentes de skate nas pistas, porque as pessoas vão praticar sem orientação”, Marcio conta. É por isso que ele dá algumas dicas para que o seu filho – ou mesmo você – comece a andar de skate e a fazer manobras com diversão e segurança.
Marcio Tanabe explica que, com a popularização do esporte e a pandemia, muitas pessoas que não são qualificadas para darem aulas migraram para a profissão. É muito importante, porém, que o profissional seja formado em educação física e tenha registro no CREF (Conselho Regional de Educação Física).
Os professores de educação física são os únicos que podem, também, adaptar as aulas conforme as necessidades da criança, segundo Tanabe. “Você não pode dar uma aula técnica se a criança está em uma fase lúdica, por exemplo”.
Por isso, a orientação dele para os pais é: pesquisar quem são os professores verdadeiros e também quais são as escolas que possuem essa preocupação.
O skatista explica que a prática do skate é dividida em diversas modalidades, que podem ser olímpicas ou não. As modalidades competitivas são:
A modalidade não competitiva criada no Brasil é o downhill slide, ou a ladeira. O skate usado é parecido com o utilizado no park, mas possui uma roda mais macia. O objetivo dessa categoria é descer ladeiras de asfalto realizando manobras.
Já as modalidades de passeio, possui as opções do longboard, skate maior que lembra uma prancha de surfe, e do penny, o equipamento menor que, muitas vezes, é confundido com um skate infantil. Esses tipos de skate não são focados em manobra, mas sim para um passeio no parque, na orla da praia ou, até mesmo, como um meio de transporte.
Tanabe alerta, porém que, no caso do penny, deve-se ter um cuidado na hora da compra: ele não é para crianças, mas sim para quem já anda muito bem. “Muitos pais compram esse skate para os filhos pensando ser infantil, mas o que acontece é que o filho pode acabar se frustrando: ele é extremamente difícil”, explica.
No caso da cidade de São Paulo, Marcio Tanabe explica que as opções são infinitas. Durante a gestão de Marta Suplicy em 2000, 44 pistas foram construídas e, depois disso, as obras só aumentaram nas gestões municipais que vieram em seguida.
O skatista indica as pistas públicas do Parque Chácara do Jockey, na Vila Sônia, do Centro de Esportes Radicais, no Bom Retiro, e, na cidade de São Bernardo do Campo, o do Paço Municipal.
Caso a procura seja por ambientes mais familiares, Marcio indica pistas particulares, locais pagos e, geralmente, cobertos. Em São Paulo, as opções são as SkateCity, com unidades no Bom Retiro e na Mooca, a Rajas Skatepark, na Barra Funda, e a Manifesto Skate Shop Park Burguer, no Ipiranga.
Marcio Tanabe explica que é essencial que o skate comprado seja um equipamento de qualidade. Normalmente, os vendidos em grandes maganizes não são skates e podem, muitas vezes, acabar causando acidentes. “Geralmente a criança escolhe pelo desenho, mas o desenho não resolve o problema. Com esses brinquedos, a criança não vai conseguir fazer as manobras e, se ela insistir na tentativa, pode acabar se machucando”, alerta.
Existe, até mesmo, uma campanha sendo compartilhada nas redes sociais pedindo para que os pais comprem skates para os filhos em skateshops. “Eu recomendo que os pais façam buscas no Google: pesquisem peças de skate, comparem os preços e comprem um skate de verdade”, diz.
Outra dica importante é que o skate não pode ser comprado já montado. Segundo o professor, o equipamento deve ser escolhido conforme a modalidade escolhida e o peso, a altura e a idade de quem vai usá-lo.
Mesmo que o praticante não vá participar de competições, o skate garante a segurança em um esporte que abrange muitas manobras. “A brincadeira do skate é aprender a desenvolver a capacidade de recuperar o equilíbrio em qualquer situação”, conta.
Os equipamentos de proteção também são importantes para que acidentes graves não aconteçam durante a prática. Marcio não vê com bons olhos a atitude de diversos esportistas em dispensar os equipamentos durante as competições. Nas Olimpíadas, por exemplo, o capacete era obrigatório apenas para menores de idade, mas ele opina que a imposição deveria ser para todos.
O equipamento de proteção é o que vai dar a longevidade para a nossa prática. Eu, desde quando meu filho nasceu, uso equipamento de proteção e, aos 57 anos, ainda tenho saúde e técnica para participar de campeonatos internacionais.” (Marcio Tanabe)
Esses equipamentos incluem o uso de capacete, joelheira e cotoveleira. Para as mãos, o skatista diz que, por serem muito sensíveis, é preferível que elas não toquem o chão durante as quedas. “O ideal é rolar na queda e, para isso, usar o joelho e o cotovelo, que devem estar devidamente protegidos”, explica.
Marcio conta que, hoje em dia, as crianças vivem apenas nas telas e não são mais praticantes de esportes. As consequências, para elas, são muitas: as fraturas, quando ocorrem, são graves por falta de preparação corporal. O skate, por sua vez, tem o papel de desenvolver elasticidade, equilíbrio, concentração e faz com que a criança recupere os seus movimentos.
Para Tanabe, essa prática e todos os outros esportes podem construir um cidadão determinado, que se planeja e que confia nele mesmo. O professor cita outro educador, Rubem Alves: o ser humano aprende duas coisas – as coisas práticas e as que lhe dão prazer.
*Sabrina Legramandi é repórter do Papo de Mãe