Roberta Manreza Publicado em 25/05/2017, às 00h00 - Atualizado às 08h56
*Por Marco Giroto, empresário
Qual é a língua mais falada do mundo?Engana-se quem pensa que é o mandarim. Acertou quem respondeu Código Binário. O binário é a língua que o computador entende. Ele armazena e transmite dados usando somente binário (0 e 1). E nós humanos, usamos as linguagens de programação para se comunicar com o computador. As linguagens de programação atuam como um tradutor entre nossa língua e a da máquina. Nossos celulares e computadores basicamente se comunicam por ela. Mas então porque em um mundo no qual a tecnologia praticamente comanda nossas vidas, falta mão de obra qualificada e sobram vagas no mercado de trabalho, sendo que esta é uma das profissões mais bem pagas do mundo? E por que países de primeiro mundo estão tornando obrigatório o ensino de ciência da computação nas escolas?
Hoje é muito comum nos cursos de ciência da computação oferecidos pelas faculdades, nos depararmos com cenários como este: salas de aulas vazias nos últimos semestres. Em uma turma que começa com 80 alunos, apenas 15 se formam. O fato do curso envolvermuita matemática e física e pouca programação e tecnologia acaba afugentando muita gente, inclusive as mulheres. Para se ter uma ideia, na primeira turma do curso de ciência da computação da USP, 70% dos alunos era mulheres. Hoje encontrá-las é raro, infelizmente.
Muitas pessoas desistem, inclusive, por acreditar que ciência da computação seja puramente matemática, o que não é verdade, a menos que se decida trabalhar com a parte de dados ou inteligência artificial. A linguagem de programação atualmente não exige que você seja um expert em matemática.
Diante disso, existe um GAP no mercado, muitas vagas de trabalho não são preenchidas e não só no Brasil. Nos EUA até o ano passado foram 500 mil vagas com falta de profissionais e até 2020 estima-se que serão mais de 1 milhão. As empresas de lá muitas vezes têm que buscar estes profissionais em outros países.
Em um mundo onde tudo é controlado por máquinas e tecnologia, saber programar tornou-se pré-requisito. Muitos países de primeiro mundo estão mudando suas leis para que a ciência da computação seja inserida no currículo escolar como matéria obrigatória.
A programação desenvolve diversas habilidades nas crianças, como raciocínio lógico, domínio da tecnologia, resolução de problemas (programar é resolver problemas), empreendedorismo, criatividade, pensamento computacional e sistêmico, física e matemática, além de apoio curricular (desenvolve outras matérias), cooperação e trabalho em equipe. Foco, concentração, auto confiança e o inglês também são desenvolvidos durante o ensino.Posso dizer isso por experiência própria. Fui uma criança que começou a programar com 12 anos e tenho conhecimento dos inúmeros benefícios que isso me trouxe.
Aprender a programar não necessariamente quer dizer se tornar um programador e ter que trabalhar apenas em empresas de tecnologia. Um cientista da computação pode atuar em diversas áreas: engenharia de softwares, banco de dados, bioinformática, segurança, arquitetura, sistemas operacionais, desenvolvimento de games, robótica, segurança digital, computação forense, na agronomia, agricultura, engenharia e medicina. Muitas doenças e remédios, a clonagem de plantas, de animais e de pessoas foram descobertas através da ciência da computação.
O fato é que praticamente 90% dos trabalhos pede algum conhecimento em tecnologia. Muitos empregos e profissões serão extintos por conta da automação e robotização. Já existem máquinas operadas por médicos,fazendo operações cirúrgicas com muita precisão. Daqui um tempo, não seremos atendidos por seres humanos em redes de fast foods, os robôs montarão os lanches e farão todo o atendimento. Na Austrália, por exemplo, existe uma pesquisa que aponta que 60% jovens estão entrando em faculdades almejando profissões que serão extintas nos próximos 15 ou 20 anos.
Por todos esses motivos, muitos países já começaram a implementar ciência da computação na grade curricular de suas escolas. O movimento teve início nos Estados Unidos e mesmo eles tendo liderado o avanço da programação nas escolas, ainda estão muito longe de chegar em outros estados. Por enquanto apenas oito deles adotaram como obrigatório a disciplina no currículo escolar e muitas escolas estão fazendo isso de maneira independente.
Eu e minha esposa moramos por um tempo no Vale do Silício (EUA), e ao visitarmos os colégios de lá, vimos que quem ensina ciência da computação são os próprios professores de informática e não um programador, e isso é padrão em todas as escolas. Um dos motivos é porque as escolas não conseguem remunerar programadores e acabam treinando os próprios professores. Para se ter uma ideia, um programador de nível sênior chega a ganhar em torno de US$ 160mil por ano, sendo que o salário mínimo de um professor está em torno de US$ 60 a US$ 70 mil por ano. Os professores por sua vez, infelizmente, acabam não se achando capacitados para ensinar.
Esta é uma realidade não só nos Estados Unidos, mas em outros países, como na Inglaterra e Estôniaque ensinam ciência da computação para crianças a partir dos cinco anos.Na União Européia cerca de 15 países já implementaram algum tipo de projeto, o que não quer dizer que seja obrigatório ou lei.
O Brasil caminha para o mesmo objetivo, já temos muitas iniciativas e muitas escolas já começaram a se mexer, porém assim como os outros países vai sofrer com o problema de mão de obra. Isso tudo implica em um ensino precário, o que desmotiva jovens e crianças que querem aprender. Muitos acabando tendo uma noção errada do que é ciência da computação, acham chato e entediante, o que não é verdade.
*Marco Giroto é empresário e fundador da SuperGeeks. A escola de Programação e Robótica para crianças e adolescentes no Brasil foi idealizada e criada quando ele e sua esposa estavam morando, entre 2012 e 2013, no Vale do Silício, Califórnia EUA – pólo mundial da tecnologia. O empresário teve seu primeiro contato com programação aos 12 anos de idade, quando o computador ainda era novidade no Brasil, e, graças e esse contato precoce com tecnologia, conseguiu se destacar em sua área, passando por grandes empresas brasileiras e multinacionais e criando sua primeira empresa de tecnologia aos 23 anos, no ano de 2003.