Sim, precisamos conversar com as crianças, sem assustá-las ou ameaçá-las. As histórias, os contos, os filmes infantis são terrenos férteis para um bom bate papo sobre proteção e cuidado
Ana Paula Yazbek* Publicado em 06/01/2021, às 00h00 - Atualizado às 09h46
Estamos atravessando meses e talvez anos de proteção e cuidado em função da Covid-19. É provável que muitas práticas permaneçam e se tornem hábitos, tais como a higienização frequente das mãos, a ventilação dos ambientes e a não aglomeração em locais fechados. A ideia de proteção e cuidado acompanha a humanidade desde o início e foi fundamental para a sua evolução. O conhecimento científico e as práticas sanitárias, ainda que não universalizadas, aumentaram significativamente a expectativa de vida da sociedade contemporânea.
No mundo, temos uma pandemia sem precedentes. A chegada da vacina, cercada de discussão e politização, deve oferecer a proteção necessária para a população, atendendo prioritariamente os idosos, profissionais de saúde e portadores de comorbidades. Não é da minha alçada e intenção discutir sobre as diferentes vacinas e qual é a mais eficiente para o enfrentamento do vírus. Quero, isto sim, como mãe e educadora, dar alguns exemplos que trazem a ideia de relatividade na prática de proteção e cuidado, e como eles se articulam neste cenário de imunização.
Tenho uma conhecida que, se estivesse ventando, nunca deixava o filho sair sem um casaco, com receio de alguma gripe ou resfriado. No entanto, permitia que antes dos 10 anos de idade, andasse no banco da frente do carro. Quando eu era criança, meus pais não permitiam que entrasse na piscina após o almoço, mas me deixavam correr e brincar intensamente no balanço. Aliás, a minha geração correu riscos e perigos que os adultos não faziam a menor ideia, pois desfrutávamos, longe de seus olhares, de lugares, espaços e tempos inimagináveis.
Atualmente, com o uso intensivo das redes sociais, podemos observar contradições semelhantes, que protegem as crianças de “ventos perigosos”, ao mesmo tempo que às expõem a acidentes que não estão preparadas para se defenderem. Como adultos, temos a responsabilidade de ensinar e mantê-las em ambientes virtuais seguros, e ao mesmo tempo conhecer os conteúdos que acessam, pois precisam de supervisão para esta travessia, da mesma forma como precisam de nossa ajuda e conversa.
Sim, precisamos conversar com as crianças, sem assustá-las ou ameaçá-las. As histórias, os contos, os filmes infantis são terrenos férteis para um bom bate papo sobre proteção e cuidado. Por exemplo, o desenho “Procurando Nemo”, no qual Marlin, o pai peixe palhaço, considera o mundo aquático inseguro e assustador demais para o seu filho, Nemo, foi uma oportunidade incrível para conversas com meus filhos, Marina e Pedro.
E sobre a vacina? Cabe alguma contradição? É uma decisão de cada família vacinar ou não a sua criança? Ao longo dos anos, conheci quem optou por não vacinar os filhos, mas agora estamos diante de uma pandemia que vitimou milhões de pessoas e que precisa ser erradicada o mais breve possível. Para isso, o esforço deve ser de todos. Desta forma estaremos protegendo e cuidando, principalmente daqueles mais vulneráveis.
*Ana Paula Yazbek é pedagoga formada pela Faculdade de Educação da USP, com especialização em Educação de Crianças de zero a três anos pelo Instituto Singularidades; iniciou mestrado na FEUSP em 2018 e está pesquisando sobre o papel da educadora de bebês e crianças bem pequenas.
É sócia-diretora do espaço ekoa, escola que atende crianças de toda Educação Infantil (dos 0 aos 5 anos e onze meses). Além de acompanhar o trabalho das educadoras, atua em cursos de formação de professores desde 1995 e desde 2002 está voltada exclusivamente aos estudos desta faixa etária.