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TDAH: mães falam sobre como identificar e como lidar com filhos que tenham o transtorno

Simone Azevedo, Monica Xavier, Cristina Ribeiro e Vera Lucia Souza e Lima são quatro mães que conversaram com o Papo de Mãe sobre TDAH

Mariana Kotscho* Publicado em 05/07/2021, às 19h36

A entrevista completa está no Canal do Papo de Mãe no Youtube
A entrevista completa está no Canal do Papo de Mãe no Youtube

Assim como a criança com TDAH muitas vezes não é compreendida, a mãe desta criança também não é. Mães de filhos ou filhas com o chamado  "Transtorno do déficit de atenção e hiperatividade" relatam que, em geral, são julgadas e tidas como "aquelas que não sabem impor limites".

Como o diagnóstico de TDAH depende de profissionais capacitados e de diversas áreas, pode levar anos para que ele seja fechado, o que traz sofrimento para a família toda, porque normalmente é aquela criança que "não se enquadra" na escola ou "que não para quieta" ou "não obedece".

O Papo de Mãe reuniu quatro mães que têm filhos com TDAH que já são adultos para trocar suas experiências, falar de suas jornadas e de como eles estão hoje. São elas:

Simone Azevedo, CEO da empresa Xingu Health. Ela tem dois filhos com TDAH, João Vitor de 25 anos e Pedro, de 22.

Quando eram pequenos tinha aquela coisa meio assim: 'seus filhos são encapetados, né?'. Mas eram 'gênios' em matemática..." (S.A.)

Simone Azevedo e os filhos João Vitor e Pedro

Cristina Ribeiro, do grupo Santa Sapiência (mentoria para mães e para os filhos jovens adultos com TDAH), fonoaudióloga. Mãe do Flávio, de 27 anos.

É fundamental detectar e explorar as habilidades de quem tem TDAH. Tem saídas criativas e bem-humoradas para tudo isso". (C.R.)

Cristina Ribeiro e o filho Flávio

Vera Lucia Souza e Lima, professora, também do Santa Sapiência, mãe do Core Drummond, de 33 anos.

Mais do que um diagnóstico, o TDAH vira uma 'charada' desde a infância". (V.L.S.L)
Vera Lucia, mãe do Core Drummond

Mônica Xavier, fundadora do Instituto Empathiae, que tem 3 filhos, sendo 2 deles com TDAH. São eles Bruno, 32, Guilherme, 28, e Thiago, 30.

"Se você encontra uma escola parceira é maravilhoso, mas se não encontra,  vira um problema."(M.X.)
Os 3 filhos de Mônica Xavier quando pequenos. "Ninguém solta a mãe de ninguém", diz Mônica

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Todas concordam que a palavra "transtorno" é ruim, pois traz algo negativo. "Meus filhos nunca foram um transtorno para mim", diz Simone. E completa: "Nunca tive medo de falar sobre isso, acaba abrindo muitas portas, um grande compartilhamento".

Outro ponto em comum é a dificuldade de a escola entender o aluno com TDAH, já que os sinais também variam bastante. "Na escola eles são tão criticados por causa do comportamento que isso acaba com a autoestima deles", conta Mônica Xavier que disse ter se sentido como mãe "um zero à esquerda" numa escola, como se ela não soubesse educar os filhos.

Também Vera Lúcia enfrentou problemas na escola por causa do filho: "A escola quer seguir um padrão, uma chamada normalidade. E a escola não o aceitava, ele ficou um tempo sem escola", conta ela, que, como todas as outras mães, correu atrás de tudo pelo filho e se tornou especialista no tema também - e de verdade. Fez o doutorado nesta área. O filho dela chegou a parar de falar e ela estudou a comunicação por imagens, inclusive com surdos. Hoje, adulto, ele é artista e mora na Bahia.

Como fazer o diagnóstico de TDAH?

Quem explica é a fonoaudióloga Cristina Ribeiro. Ela diz que podem ser muitos sintomas associados, que é uma jornada, uma via crucis para fechar o diagnóstico. Os pais percebem que algo vai mal, fora do desenvolvimento tido como normal, com indícios de déficit de atenção: a pessoa nem sempre responde ou presta atenção em algo ou, pelo contrário, tem hiper-foco (algo que até atrapalha no diagnóstico, pois é o oposto do déficit de atenção), alguém que foca de mais numa única coisa.

E o tratamento de TDAH?

São pessoas que precisam de acompanhamento de diversos especialistas, muitas vezes de psiquiatra, psicólogo, fonoaudiólogo, neurologista. Algo mais recente são mentorias, como as que faz o grupo Santa Sapiência. São terapias e, às vezes, é necessário também medicar - o que as mães afirmam que não se deve ter preconceito: se precisar tomar remédio, para elas, é melhor tomar.

"A sociedade quer enquadrar, mas a gente precisa incluir, resume Cristina.

Em geral, são alunos que procuram atividades voltadas às artes ou na área áudio-visual. Dificilmente eles conseguem terminar a faculdade, ainda mais se o curso for sem muita parte prática. E as mães concordam que, apesar da participação de muitos pais, elas, as mulheres, é que acabam ficando mais sobrecarregadas.

Mônica lembra que quando os filhos eram pequenos um pediatra chegou a dizer que 'TDAH não existia', era uma invenção. O filho dela hoje trabalha em Amsterdã, na Holanda,  e tem uma produtora de vídeo. Já o filho de Cristina fez gastronomia e o de Vera é artista e mora na Bahia. Na entrevista em vídeo com as quatro mães, Vera recitou um texto do filho.

Eles precisam que a gente tenha paciência. Eles podem ir muito longe, desde que a gente respeite. Eles vão longe no caminho que eles traçarem pra eles e não no caminho que a gente traçar para eles" (Mônica Xavier)

Assista entrevista completa sobre TDAH

Ainda segundo Mônica Xavier, "a gente não quer um diagnóstico para se esconder atrás deles (dos filhos), o diagnóstico explica. Sabendo como seu filho é, você vai saber lidar com ele. Não é que ele é um transtorno, seu filho tem uma questão e a gente tem que aprender a lidar com ela, para que ele tenha uma boa qualidade de vida."

Recados para outras mães

"Mães, não tenham vergonha de pedir ajuda. Famílias, o que essas mãe precisam é de ajuda e não de palpite. Alguém para segurar a mão." (Simone Azevedo)

"Às vezes ser mãe é difícil demais. Cada mãe deve ter a certeza de que tá fazendo seu melhor e o que pode. Peça ajuda. A gente tem o Instituto Empathiae para ajudar. E estamos de coração aberto para acolher, ouvir e ajudar. Ninguém solta a mãe de ninguém." (Mônica Xavier)

"O nome Santa Sapiência vem do "Tenha a Santa paciência", que a gente ouve de tantas mães. A gente encara essa batalha com outras mães." (Vera Lucia Souza e Lima)

"Não estamos sózinhas, importante pensar nisso. E falar dos sentimentos e das dificuldades. Quando a gente fala, a gente trabalha para a cidadania e o pertencimento. Vamos nos unir, vamos falar e vamos ficar juntas". (Cristina Ribeiro)

@xingu4h.br

@institutoempathiae

@santa_sapiencia

*Mariana Kotscho é jornalista

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