Simone Azevedo, Monica Xavier, Cristina Ribeiro e Vera Lucia Souza e Lima são quatro mães que conversaram com o Papo de Mãe sobre TDAH
Mariana Kotscho* Publicado em 05/07/2021, às 19h36
Assim como a criança com TDAH muitas vezes não é compreendida, a mãe desta criança também não é. Mães de filhos ou filhas com o chamado "Transtorno do déficit de atenção e hiperatividade" relatam que, em geral, são julgadas e tidas como "aquelas que não sabem impor limites".
Como o diagnóstico de TDAH depende de profissionais capacitados e de diversas áreas, pode levar anos para que ele seja fechado, o que traz sofrimento para a família toda, porque normalmente é aquela criança que "não se enquadra" na escola ou "que não para quieta" ou "não obedece".
O Papo de Mãe reuniu quatro mães que têm filhos com TDAH que já são adultos para trocar suas experiências, falar de suas jornadas e de como eles estão hoje. São elas:
Simone Azevedo, CEO da empresa Xingu Health. Ela tem dois filhos com TDAH, João Vitor de 25 anos e Pedro, de 22.
Quando eram pequenos tinha aquela coisa meio assim: 'seus filhos são encapetados, né?'. Mas eram 'gênios' em matemática..." (S.A.)
Cristina Ribeiro, do grupo Santa Sapiência (mentoria para mães e para os filhos jovens adultos com TDAH), fonoaudióloga. Mãe do Flávio, de 27 anos.
É fundamental detectar e explorar as habilidades de quem tem TDAH. Tem saídas criativas e bem-humoradas para tudo isso". (C.R.)
Vera Lucia Souza e Lima, professora, também do Santa Sapiência, mãe do Core Drummond, de 33 anos.
Mais do que um diagnóstico, o TDAH vira uma 'charada' desde a infância". (V.L.S.L)
Mônica Xavier, fundadora do Instituto Empathiae, que tem 3 filhos, sendo 2 deles com TDAH. São eles Bruno, 32, Guilherme, 28, e Thiago, 30.
"Se você encontra uma escola parceira é maravilhoso, mas se não encontra, vira um problema."(M.X.)
Todas concordam que a palavra "transtorno" é ruim, pois traz algo negativo. "Meus filhos nunca foram um transtorno para mim", diz Simone. E completa: "Nunca tive medo de falar sobre isso, acaba abrindo muitas portas, um grande compartilhamento".
Outro ponto em comum é a dificuldade de a escola entender o aluno com TDAH, já que os sinais também variam bastante. "Na escola eles são tão criticados por causa do comportamento que isso acaba com a autoestima deles", conta Mônica Xavier que disse ter se sentido como mãe "um zero à esquerda" numa escola, como se ela não soubesse educar os filhos.
Também Vera Lúcia enfrentou problemas na escola por causa do filho: "A escola quer seguir um padrão, uma chamada normalidade. E a escola não o aceitava, ele ficou um tempo sem escola", conta ela, que, como todas as outras mães, correu atrás de tudo pelo filho e se tornou especialista no tema também - e de verdade. Fez o doutorado nesta área. O filho dela chegou a parar de falar e ela estudou a comunicação por imagens, inclusive com surdos. Hoje, adulto, ele é artista e mora na Bahia.
Quem explica é a fonoaudióloga Cristina Ribeiro. Ela diz que podem ser muitos sintomas associados, que é uma jornada, uma via crucis para fechar o diagnóstico. Os pais percebem que algo vai mal, fora do desenvolvimento tido como normal, com indícios de déficit de atenção: a pessoa nem sempre responde ou presta atenção em algo ou, pelo contrário, tem hiper-foco (algo que até atrapalha no diagnóstico, pois é o oposto do déficit de atenção), alguém que foca de mais numa única coisa.
São pessoas que precisam de acompanhamento de diversos especialistas, muitas vezes de psiquiatra, psicólogo, fonoaudiólogo, neurologista. Algo mais recente são mentorias, como as que faz o grupo Santa Sapiência. São terapias e, às vezes, é necessário também medicar - o que as mães afirmam que não se deve ter preconceito: se precisar tomar remédio, para elas, é melhor tomar.
"A sociedade quer enquadrar, mas a gente precisa incluir, resume Cristina.
Em geral, são alunos que procuram atividades voltadas às artes ou na área áudio-visual. Dificilmente eles conseguem terminar a faculdade, ainda mais se o curso for sem muita parte prática. E as mães concordam que, apesar da participação de muitos pais, elas, as mulheres, é que acabam ficando mais sobrecarregadas.
Mônica lembra que quando os filhos eram pequenos um pediatra chegou a dizer que 'TDAH não existia', era uma invenção. O filho dela hoje trabalha em Amsterdã, na Holanda, e tem uma produtora de vídeo. Já o filho de Cristina fez gastronomia e o de Vera é artista e mora na Bahia. Na entrevista em vídeo com as quatro mães, Vera recitou um texto do filho.
Eles precisam que a gente tenha paciência. Eles podem ir muito longe, desde que a gente respeite. Eles vão longe no caminho que eles traçarem pra eles e não no caminho que a gente traçar para eles" (Mônica Xavier)
Ainda segundo Mônica Xavier, "a gente não quer um diagnóstico para se esconder atrás deles (dos filhos), o diagnóstico explica. Sabendo como seu filho é, você vai saber lidar com ele. Não é que ele é um transtorno, seu filho tem uma questão e a gente tem que aprender a lidar com ela, para que ele tenha uma boa qualidade de vida."
"Mães, não tenham vergonha de pedir ajuda. Famílias, o que essas mãe precisam é de ajuda e não de palpite. Alguém para segurar a mão." (Simone Azevedo)
"Às vezes ser mãe é difícil demais. Cada mãe deve ter a certeza de que tá fazendo seu melhor e o que pode. Peça ajuda. A gente tem o Instituto Empathiae para ajudar. E estamos de coração aberto para acolher, ouvir e ajudar. Ninguém solta a mãe de ninguém." (Mônica Xavier)
"O nome Santa Sapiência vem do "Tenha a Santa paciência", que a gente ouve de tantas mães. A gente encara essa batalha com outras mães." (Vera Lucia Souza e Lima)
"Não estamos sózinhas, importante pensar nisso. E falar dos sentimentos e das dificuldades. Quando a gente fala, a gente trabalha para a cidadania e o pertencimento. Vamos nos unir, vamos falar e vamos ficar juntas". (Cristina Ribeiro)
@xingu4h.br
@institutoempathiae
@santa_sapiencia
*Mariana Kotscho é jornalista