Colaborador do Papo de Mãe, Raphael Preto Pereira, escreve sobre a evolução do Teleton, que será transmitido nos dias 22 e 23
*Raphael Preto Pereira Publicado em 23/10/2021, às 13h09
Quando o Teleton foi exibido pela primeira vez no Brasil, deficiência era palavrão. A maioria das pessoas com deficiência ficava em casa, não havia um debate sobre qual era o lugar dessas pessoas na sociedade. O único lugar possível para elas era a terapia e o tratamento.
O programa transmitido pelo SBT nasceu como um mecanismo de arrecadação para a AACD (Associação de Assistência à Criança com Deficiência), mas acabou se tornando a maneira mais eficaz que o Brasil produziu até hoje de colocar a questão da pessoa com deficiência no Brasil.
O conteúdo evoluiu, e hoje o programa já toca em assuntos como: educação inclusiva, empregabilidade e até mesmo relações sexuais. Numa de suas últimas participações de Silvio Santos antes da pandemia de COVID 19, o animador perguntou a um casal cujo noivo era cadeirante: “na cadeira de rodas ele pode ser papai”?
Para quem é meio desavisado, ou tem má vontade com o animador, isso pode ser interpretado como mais uma declaração sem noção do apresentador. Mas, a fala tem um aspecto social que não pode passar despercebida. Bem ou mal, Silvio Santos arranjou um jeito de discutir sexualidade da pessoa com deficiência. No horário nobre. Na TV Aberta.
O Teleton também passou a receber influenciadores digitais que têm alguma deficiência. Desconheço contribuição mais efetiva para a representatividade dessa parcela da população. O formato do programa também evoluiu, e passou a contemplar as plataformas digitais e as redes sociais.
As mudanças nas relações artista/emissora, também afetaram a dinâmica da atração. No fim da década de 90, a Rede Globo vivia os últimos anos da gestão de José Bonifácio de Oliveira, o Boni, e ainda privilegiava os contratos de exclusividade, o que impedia os artistas contratados da Rede Globo de participarem de eventos de outras emissoras.
O Teleton até agora consegue acompanhar as mudanças nas relações das pessoas com deficiência e hoje discute temas contemporâneos e consegue desenvolver de um jeito extremamente exitoso a interseccionalidade que o tema da pessoa com deficiência exige.
Mas pra mim, que sou uma pessoa com deficiência, o Teleton será sempre o primeiro programa que lembrou que eu existo.
*Raphael Preto Pereira é repórter do Papo de Mãe
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