Nós, mães, sempre estamos às voltas com aquele sentimento inquietante, onipresente, invasivo, acusador, e que nos ronda de forma ostensiva: a famosa culpa. Essa palavrinha aparecerá muitas vezes neste texto...
Marcella Bisseto* Publicado em 30/03/2019, às 00h00 - Atualizado às 14h47
Recentemente ouvi uma frase que me fez parar para pensar: “A maternidade é neurotizante…”
Me vejo forçada a concordar… Nós, mães, sempre estamos às voltas com aquele sentimento inquietante, onipresente, invasivo, acusador, e que nos ronda de forma ostensiva: a famosa culpa. Essa palavrinha aparecerá muitas vezes neste texto…
De fato. Por mais tranquila e talvez equilibrada que uma mãe possa ser (o que não é meu caso… rsrsrs), é inescapável admitir que, a qualquer situação envolvendo nossos filhos, estamos atentas e prontas para assumir a culpa! Sim, nós literalmente “vestimos” a culpa, e ela se torna uma peça-chave no guarda roupa que “veste” nossa alma.
Quantas e quantas vezes não ouvimos a frase: “Sua mãe não te deu educação?”, ou “Sua mãe não te ensinou isso?”
Por todo e qualquer ângulo que olhemos, a culpa sempre é da mãe…
Outro dia saímos todos para comer um lanche, depois de uma manhã movimentada. Ao sentarmo-nos na mesa da lanchonete, minha pequena, então com dois aninhos, reclamou: “Mamãe, estou com fome!”.
Nesse preciso momento, lembrei-me que não havia dado almoço para minha filha ainda, e já estávamos no meio da tarde. O remorso me assaltou como uma avalanche, e eu me senti a pior mãe do planeta. “Perdão, meu amor!”, disse aflita, e quase invadi a cozinha do restaurante em busca de qualquer alimento que saciasse a fome da minha filha, e oferecesse conforto ao meu coração atormentado.
Se pararmos para pensar, certamente identificaremos várias situações cotidianas em que nosso senso de autopunição mostra as garras: “Filho, se você não tomar esse suco, não poderá brincar”. A criança alega que o suco está com o gosto ruim, mas achamos que é desculpa. Quando resolvemos experimentar o líquido inacabado no copo, percebemos que a fruta estava azeda! Nós mesmas não tomaríamos aquele suco!
Mas o pior mesmo é quando você lê atrasada as mensagens do grupo de mães da Escola do seu filho, e percebe que naquele dia todas as crianças poderiam frequentar as aulas fantasiadas, mas você simplesmente… esqueceu! Pela sua cabeça, como em um filme, passa a imagem do seu filho de uniforme, deslocado, em meio a vários super-heróis, fadas e princesas.
Talvez este texto não tivesse fim, tantas são as situações que descaradamente apontam os dedos acusadores para uma mãe: um ser mortal, de carne e osso, que tem a obrigação de não errar. Nunca.
O fato é que nós sempre seremos culpadas. Mesmo que a culpa não seja nossa. Sim, é um paradoxo, mas é algo cultural, afinal “mãe é mãe”…
Talvez a origem disso tudo resida no cordão umbilical imaginário que nos une às nossas crias para todo o sempre. Nossos filhos crescerão, serão adultos, serão pais, mães, maridos, esposas, e nós sempre encontraremos um jeito de pensar que, a cada erro deles, tem um pouco da nossa velha culpa embutida. Eles são, afinal, a soma de todos os nossos erros e de todos os nossos acertos.
* Marcella Bisetto é paulistana, advogada, escritora, criadora do blog Mami aos 43, e das páginas (Instagram) Mami aos 43, e “una mamá de brasil” (em que só escreve em espanhol). Autora do livro DIÁRIO DA MAMI, em que relata suas vivências como mãe de duas meninas em idades bastante distintas: Bárbara e Giovanna têm oito anos de diferença.
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