Um dos maiores medos que assombram a vida de algumas mães é viver longe de seus filhos. Mesmo que seja certo que esta separação irá ocorrer, algumas delas não se encontram preparadas quando seus filhos deixam suas casas e entram em um dos momentos mais sofríveis de suas vidas; sendo que, em alguns casos específicos, quando a mãe possui uma personalidade mais dramática, que predispõe a uma maior dificuldade de administrar o vazio, quadros de psicopatologias importantes como os transtornos de ansiedade e de depressão podem ser deflagrados... Sim, algumas mães teriam maiores dificuldades em elaborar o distanciamento que acontece devido a adultificacão de seus filhos, enquanto outras conseguem pensar positivamente, orgulhando-se de terem conquistado êxito ao criá-los para o mundo. As mães que já possuíam dificuldades de encontrar seu próprio bem-estar antes da maternidade, são mais suscetíveis a desenvolverem a síndrome em questão. Este perfil de mãe que deposita toda a sua vida emocional na maternidade, definitivamente, não consegue elaborar a experiência do distanciamento de seus filhos, e pensar em si própria, ou se motivarem a realizar os sonhos que foram adiados devido as funções da maternidade. Enquanto algumas mães voltam a praticar algum hobby, esporte ou autocuidado e adotam uma rotina mais feliz, outras sucumbem o seu emocional e adoecem severamente.
Na primeira metade do século XX, o médico ViKtor Frankl, descobriu, a "Síndrome do Ninho Vazio" (SNV). A Síndrome do Ninho Vazio se caracteriza por um sofrimento psíquico excessivo associado à perda do papel da função dos pais, com a saída dos filhos de casa, ao decidirem estudar fora, se casarem ou viverem sozinhos. A Síndrome pode ser expressa por meio de sintomas de ansiedade, dores e outras manifestações psicológicas e biológicas, deflagrados no momento correlacionado à independência dos filhos. Também pode resultar em morte por suicídio. Normalmente, a síndrome do ninho vazio é pontual, ou seja, possui um tempo certo para ser encerrada, sendo que, sua duração se estende do instante de separação dos filhos até o estabelecimento de uma nova organização pessoal e familiar.
Ela se manifesta, portanto, quando a mãe já não tem mais com quem se ocupar; então, as preocupações se voltam para o companheiro, que normalmente está focado na vida profissional ou está distante afetivamente pela inabilidade de terem construído uma vida conjugal com conexão e tempo de qualidade, tendo depositado, toda atenção familiar em seus filhos, e abdicado dos programas que aproximam o casal. Eles se deparam com um distanciamento afetivo importante, e uma estranheza que necessita de ressignificação dos laços e novos aprendizados.
Consequências na vida do casal
A SNV pode propiciar maiores chances de divórcios nessa fase da vida das pessoas e quando ocorre essa quebra dos laços afetivos com os filhos, e a mãe está enfrentando o processo da menopausa, é ainda mais problemático, pois os sentimentos de envelhecimento, sem a função reprodutora, e com uma autoestima baixa, pode-se resultar em uma mulher bastante vulnerável emocionalmente.
Fique atenta aos sintomas
A Síndrome do Ninho Vazio, é uma psicopatologia crônica, influenciada por fatores sociais, psicológicos e subjetivos. No entanto, a psicopatologia em questão, se faz presente quando os pais ou tutores manifestam sintomas de solidão, vazio, tristeza, irritação, ansiedade e depressão que acometem mais frequentemente, a mãe, assim que um filho deixa o lar, em busca da sua própria vida. A Síndrome do Ninho Vazio pode acarretar, além destes sintomas, algumas consequências negativas para o individuo como: medos, anedonia, melancolia, distúrbios alimentares, diminuição da libido, insônia, raiva; dentre outros. Nos casos em que essa tristeza presente na síndrome se prolongue por um tempo maior, junto com uma perda de objetivos de vida, deve-se fazer um acompanhamento psicológico, para prevenir o estado de depressão crônica.
Os homens também podem ser acometidos da SNV?
Diante a uma cultura expressivamente fomentada pelos valores e crenças de perpetuação da dominância patriarcal, foi reproduzido no senso comum, que apenas as mulheres deveriam desenvolver um afeto importante e demonstrar suas vulnerabilidades emocionais, e de que os homens devem ser fortes e racionais e não podem chorar ou manifestar suas emoções. Segundo o relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS), essa ideologia de masculinidade irreal, repercuti no aumento das taxas de suicídios entre os homens, nas culturas que predispõe estas crenças sociais. A síndrome do ninho vazio, atinge tanto o homem quanto a mulher, em intensidades diferentes porque a personalidade e o estilo de vida de cada indivíduo influência no modo como a separação é encarada, sendo que o indivíduo mais dramático e dependente emocionalmente dos filhos, normalmente tenderá a sofrer mais. Importante salientar que homem também é acometido de dificuldades biológicas, dentre as quais a andropausa. A andropausa faz com que o homem se sinta aparentemente mais velho e a queda de sua autoestima interfere em seu humor e em sua libido. Quando o homem percebe seus filhos seguindo seus caminhos sem necessitarem de sua proteção, ele também se sente impotente. A Síndrome do Ninho Vazio, pode atingir tanto o homem quanto a mulher, com intensidades diferentes, sendo que a personalidade e subjetividade de cada individuo influenciam nesse processo.
Veja também:
Como lidar com a dependência exagerada do seu filho?
Mãe superprotetora prejudica autonomia do filho
Autonomia x liberdade. Os 18 anos dos filhos
Aspectos culturais da SNV
Considerando que a Síndrome do Ninho Vazio é um sofrimento relacionado à perda do papel da função dos pais devido à saída dos filhos de casa, observa-se que em algumas culturas em que os filhos, mesmo após se casarem, costumam residir próximo a casa de seus pais, nestas culturas poderia ser mais difícil o Ninho Vazio se manifestar, no entanto, a SNV pode ser deflagrada até mesmo quando os filhos residem na mesma casa que seus pais, quando eles, estabelecem uma maior autonomia emocional e independência financeira.
A SNV, está associada à cultura, ou seja, em culturas em que os pais, principalmente as mães, se dedicam exclusivamente à criação dos filhos. A saída dos filhos de casa, causa mais impacto e sentimento de solidão, no período em que os filhos saem de casa, e as mães deparam-se com outras mudanças importantes, como aposentadoria, ou início da menopausa, o que poderão deflagrar sentimentos de depressão e baixa autoestima. Quando as mães vivenciam uma fase emocionalmente neutra em termos de desafios pessoais, elas se sentem dispensáveis, muitas referem ter dedicado a vida a seus filhos, abdicado da carreira, da vida pessoal e os culpam pela ruptura, contudo, o crescimento e a autonomia de seus filhos, deveria ser garantido, ensinado e desejado...
Conforme explicamos neste artigo a SNV é uma psicopatologia, uma doença e demanda uma intervenção de um profissional de saúde mental, o psicólogo, preferencialmente, especializado em terapia cognitivo comportamental, mediante as ferramentas e metodologias que contribuem para uma mudança de crenças e a adoção de comportamentos mais adaptativos e funcionais. Com relação a esse acompanhamento psicoterápico é necessário que toda a família seja inserida nesse processo, pois normalmente, as relações familiares podem ser negativamente impactadas pela Síndrome. É importante que todos os envolvidos na dinâmica familiar possam dinamizar esforços em prol da superação dessa psicopatologia. A inserção de toda a família na terapia, faz grande diferença para que o tratamento psicológico seja mais efetivo. Também é importante a possibilidade de uma intervenção profissional preventiva, quando identificado aspectos preditores por parte dos pais, como a falta de objetivo, menopausa, aposentadoria, insatisfação pessoal; entre outros. É preciso mudar as crenças dos familiares para que possam compreender que os filhos não devam permanecer em suas companhias por longos anos, antes mesmo de acontecer o afastamento, ao identificar as queixas e medos destes pais, que muitas vezes procuram a terapia por outros motivos, pode ser um sinal de que é necessária uma abordagem de prevenção a SNV. A transição para a independência dos filho, precisa ser vista de forma positiva e saudável, garantindo autonomia e bem-estar para toda a família, no entanto, as mudanças de percepção não se alteram apenas por meio de aconselhamentos, e sim de um treino de gestão emocional, uma escuta psicoeducativa e proposta interventiva, provenientes de um profissional qualificado e habilitado para a função de ensinar ferramentas de fortalecimento emocional, mudanças de crenças e comportamentos mais adaptativos, como por exemplo aprender a redirecionar o foco para a própria vida, e buscar viver com sentido, independentemente dos elos familiares, além da implementação de inúmeras ferramentas psicológicas que reverberam na produção de um self (si mesmo) mais saudável e uma vida que traga sentimentos de autorrealização, autoamor e aproxime estas mães de objetivos e ideais de vida que estavam amortizados na ocupação do tempo vago, pela ausência dos filhos ou dependentes com outras atividades que são prazerosas, como por exemplo a realização de atividades físicas, atividades culturais, de lazer, interações sociais, descobrir novos objetivos, praticar o autocuidado, aprender a manter uma rotina consistente de prazeres, aprender a recomeçar, reformular os ideais pessoais e os valores da vida a dois, e para aquelas mães que se percebem sozinhas, é importante aprender habilidades sociais e a refletir sobre a possibilidade de conquistar uma vida a dois, ou de interagir com os amigos ou realizar todos os sonhos que foram adiados.
Nesta fase de transição a psicoterapia atua com métodos que vão ajudar na compreensão e na mudança de comportamento para que estas mães em questão, possam administrar melhor seus sentimentos encarando com normalidade e entendendo melhor não só esta etapa da vida, mas outras que estarão por vir. Por fim, o profissional de psicologia poderá indicar a inserção de outros profissionais como o psiquiatra, entre outros.