Problema que cresceu na pandemia, a ansiedade da separação, comum até os 2 anos, passou a atingir crianças de até 10 anos de idade. Veja dicas para lidar com isso
Redação Papo de Mãe* Publicado em 13/07/2021, às 16h20
A mãe sai de perto, o bebê começa a chorar. Essa cena parece comum? Pois ela é. É a chamada ansiedade da separação, que tem ocorrência frequente em torno dos 6 meses.
A partir dessa idade, as crianças tendem a perceber que a mãe é um indivíduo separado e que são seres independentes. Com isso, surgem sentimentos como angústia, aflição e medo de que o afastamento momentâneo da mãe indique que ela irá sumir e nunca mais voltar.
Esse temor pode gerar desde muito choro até sintomas físicos, como febre e dores de estômago, mas há uma tendência que passe aos 2 anos.
Entretanto, durante o isolamento social, a ansiedade da superação ganhou mais força. Com a pandemia do coronavírus, crianças mais velhas, de 9 e 10 anos, também estão tendo dificuldade para se separar dos pais, o que ocorre tanto no retorno presencial à escola, quanto quando os responsáveis vão trabalhar. Não importa o local, seja no parque ou na padaria, as crianças querem estar grudadas nos adultos.
De acordo com a psicóloga Thalita Nobre, do Grupo Prontobaby, o aumento deste tipo de comportamento, da ansiedade da separação, em faixas etárias não habituais, é notável e as razões para isso não são difíceis de entender.
"Nós somos seres sociais, precisamos do outro. Na pandemia, as crianças perderam muito contato com seus amigos, parentes. Isso já gera muita angústia, mas temos ainda outra questão. Não só não podemos estar com o outro da mesma forma de antes, como sabemos que o outro pode morrer, e que isso não é uma fantasia".
Thalita ainda afirma que é importante que os pais saibam identificar o que está acontecendo com os seus filhos. Se uma criança sempre foi insegura, por exemplo, esse comportamento pode se intensificar na pandemia, o que é natural. O problema surge quando ocorre uma mudança no comportamento, ou seja, uma criança que sempre foi extrovertida e independente ter dificuldades para ficar sozinha e longe dos pais.
"Nestes casos, não se deve dizer que é bobagem o que ela está sentindo. É necessário deixar que os filhos digam como estão. Quando se nomeia a angústia, já é uma ajuda para vencê-la", afirma Thalita Nobre.
Em razão disso, a psicóloga elaborou uma lista de recomendações para tentar ajudar as crianças neste momento delicado.
• Fale sempre a verdade - Nunca saia escondido. Diga onde está indo, explique o motivo de sua ausência e tente estimar a hora em que estará de volta. Mas lembre que poderá haver atrasos, afinal, imprevistos acontecem.
• Mostre segurança - Pais e as mães não devem reforçar o comportamento da criança, mostrando-se hesitantes diante da separação. Tenha atitudes positivas na hora de dar tchau. Quando os pais estão tranquilos, a criança tem mais facilidade de entender a separação.
• Tranquilize sobre a pandemia, mas sem exageros - É importante que pais e mães reforcem que estão tomando todos os cuidados para não serem contaminados. Mas não dêem garantias de que nada vai acontecer porque, caso aconteça algum problema, a criança pode perder a confiança em suas palavras.
• Dê tempo ao seu filho - Com a pandemia, os pequenos já foram submetidos a uma ruptura muito grande e inesperada com o mundo que conheciam. Agora, na hora da retomada à escola, vá com calma. Pode ser que eles precisem de tempo para se readaptarem. Converse com o colégio e veja se é possível que eles comecem com algumas horas ou dias alternados.
• Incentive a criança a ocupar o tempo para driblar a ansiedade de separação - Seu filho gosta de artes? Ofereça papel, lápis de cor, tintas e pincéis para que ele produza durante sua ausência. Se ele preferir esportes ou música, permita que ele faça estas atividades.
• Nunca diga que o que a criança sente é bobagem - Não repreenda o choro e nem diga que a ansiedade é uma bobagem. Pergunte como ele está, peça para falar sobre a angústia e nunca julgue o sentimento.
• E se esta fase não passar? - Se os pais identificarem a mudança de comportamento e excessos, é preciso procurar ajuda de um psicólogo. Além de causar sofrimento, a ansiedade de separação pode ser um fator de risco para outros transtornos, como síndrome do pânico.