25 de novembro, dia Internacional pela Eliminação da Violência contra as Mulheres
Mariana Kotscho* Publicado em 25/11/2020, às 00h00 - Atualizado em 15/01/2021, às 12h20
Em 2007, Claudia, que conheci ainda criança, foi assassinada a facadas pelo ex-marido. Foi na frente da filha, que na época tinha 4 anos. O assassino nunca foi preso. Anos depois, uma moça veio me contar que o marido mandou ela sair do emprego e ficar só cuidando da casa ou iria “encher a cara dela de porrada e até matar”. De lá pra cá, atendi de perto, como voluntária, a milhares de mulheres, oferecendo escuta, acolhimento e orientação.
Temos que acreditar que essa triste realidade está mudando. Já não é mais só assunto de páginas policias. O combate diário, a informação, o fortalecimento das vítimas e a aplicação da Lei Maria da Penha são alguns dos elementos desta transformação para que a violência contra a mulher deixe de ser uma epidemiano nosso país.
Ao longo de 30 anos trabalhando em televisão, já entrevistei muitas mulheres com histórias parecidas. E, infelizmente, com frequência, chegam até mim relatos graves, vindos de mulheres de todas as classes sociais. Namorados, maridos e ex-maridos que batem, que ameaçam, que agridem psicologicamente e emocionalmente, entre outras agressões.
Sim, o machismo mata. É o homem com um sentimento de posse e de controle sobre a mulher. Precisamos, como mães e pais, criarmos nossas meninas para que cresçam e não se tornem vítimas e nossos meninos para que cresçam e não se tornem agressores. Como dica de prevenção fica a cartilha “Namoro Legal” coordenada pela promotora Valeria Scarance, do Núcleo de Gênero do Ministério Público de São Paulo.
“Praticamente 10 mulheres são agredidas por minuto no Brasil. E este número é ainda maior quando se trata de violência verbal e psicológica. Uma em cada três mulheres diz já ter sofrido algum abuso psicológico, verbal ou físico”
Importante lembrar que, além da lei Maria da Penha, considerada uma das melhores do mundo na proteção da mulher, temos também a lei do feminicídio que trata justamente do assassinato de mulheres por serem mulheres.
Apesar dos avanços, muitas de nós continuam sendo vítimas, tendo medo, sofrendo caladas, reféns da própria vida. E eu me pergunto: até quando vai ser assim? Quantas mulheres que estão lendo meu texto já passaram por isso ou quantas pessoas conhecem uma que já passou?
A maioria ainda sofre em silêncio, uma violência pode ser velada, acontece entre quatro paredes, escondida. Mas que deixa marcas que podem ser externas, internas e eternas.
“Com 4,8 assassinatos a cada 100 mil mulheres, o Brasil ocupa hoje o 5º lugar no ranking de países de maior violência contra a mulher”
É uma violência praticada por homens que se acham donos das mulheres e acima do bem e do mal. Homens que deveriam ser seus parceiros, amigos, companheiros. Que moram nas suas próprias casas, que em sua maioria sãos os pais dos seus filhos. A violência doméstica contra a mulher atinge também as crianças – direta ou indiretamente.
Nos arquivos do Papo de Mãe há vários programas sobre violência doméstica, inclusive com participação da própria Maria da Penha (veja abaixo).
Também tive a honra de participar do Programa Roda Viva com Maria da Penha 2 anos atrás. Vale muito conhecer o trabalho do Instituto Maria da Penha.
Coordeno um grupo no facebook que acolhe e orienta vítimas de violência doméstica. Em 5 anos, quase 5 mil mulheres já foram atendidas.
Recentemente escrevi uma reportagem aqui no UOL sobre o tema e o agravamento na pandemia e realizei uma série de 6 episódios, a Taliberta, sobre violência doméstica, nas redes do Instituto Camila e Luiz Taliberti, que é finalista do prêmio Jatobá. Enquanto houver violência contra a mulher, o tema precisa estar em pauta.
Hoje, Universa UOL lançou um manual de conduta para cobertura de violência contra a mulher, conduzido pela repórter Lola Ferreira, com o qual tive o prazer de colaborar.
Até quando seremos coniventes com a violência doméstica?
Estenda a mão para uma vítima, ajude. Denuncie 180 ou chame a polícia 190.
*Por Mariana Kotscho, jornalista, apresentadora do Papo de Mãe e ativista