Fabíola Sucasas, promotora de Justiça, participa da coleção 'Mulheres Fora de Série' e traz relatos pessoais do que também viveu como mulher
Ana Beatriz Gonçalves* Publicado em 24/07/2021, às 09h19
Fabíola Sucasas é um dos principais nomes da promotoria de Justiça do Ministério Público de São Paulo quando se trata de enfrentamento da violência de gênero e violência doméstica. No entanto, quando recebeu o convite de Rachel Polito e Fabi Saad para participar da coleção de livros "Mulheres Fora de Série" escrevendo um material sobre violência doméstica, ela sabia que também devia contar sua história.
"Eu refleti comigo: tenho duas histórias, na verdade, várias historias da minha vida particular, e eu costumo usar muito histórias do meu universo profissional para ensinar e mostrar o que é violência, quais são as dificuldades, o que a mulher passa de fato no dia a dia e as formas para compreender essa dinâmica da violência", conta ela ao Papo de Mãe.
Fabíola diz que foi difícil colocar no papel duas situações que viveu com o ex-marido, apesar disso, decidiu compartilhar de forma anônima no livro que acaba de lançar para o projeto "A vida, a saúde e a segurança das mulheres". Na publicação, da Editora Expressa e já disponível na Amazon, a promotora traz algumas histórias fortes e impactantes de mulheres que sofreram com a violência patriarcal, tanto física como patrimonial, psicológica e institucional.
"Resolvi colocar isso publicamente compreendendo que as nossas experiências podem contribuir para que outras pessoas consigam se libertar dessas situações de violência. Em relação a mim, quis ser um pouquinho mais cautelosa até porque envolve o pai do meu filho. Eu falei: ‘bom, vou contar a história e depois no final do livro eu falo que algumas das histórias são da minha vida’ e pronto", afirma.
O projeto da Editora, que pelo nome já diz por si só, apresenta histórias de mulheres realmente fora de série, que precisaram romper com o machismo estrutural de diversas formas. Fábiola Sucasas foi convidada para tratar do tema que já foi presente em sua vida pessoal, e atualmente é bastante recorrente na vida profissional. O que segundo ela, não acrescenta em nada na sua qualidade como promotora.
"O fato de eu ter vivido violência doméstica e hoje trabalhar com isso não retira de mim meu olhar técnico, jurídico e isento, que deve permear qualquer profissional. Acredito que todo mundo tem as suas próprias histórias e isso não signigica que a empatia, a humanidade, não possa envolver nosso lado profissional", diz ela, que não se identifica com o papel de vítima, e muito menos de sobrevivente, mas sim de mulher que já vivenciou uma situação de violência.
Eu digo que todas as mulheres já passaram de certa forma por essa violência. Pra mim foi muito importante reconhecer e ressignificar esse trauma. Isso me impulsiona de outra forma", comenta. (FS)
Trazendo algumas histórias das quais já se deparou ao longo da sua trajetória na Promotoria de Justiça do Ministério Público de São Paulo, onde atua desde 1997, Fabíola Sucasas diz que já no primeiro capítulo da obra ela reforça que todas as mulheres, em algum momento de suas vidas, já enfrentaram um episódio de violência.
Segundo ela "é preciso tirar a força do útero para não desistir e seguir em frente”.
A minha história não é diferente da a da Ana, Andréia ou Mariana... São histórias de mulheres brasileiras que vivem dentro de um cenário em que o machismo ainda dita a liberdade da mulher.
Reunindo todas as suas vertentes no livro "A vida, a saúde e a segurança das mulheres", Fabíola traz sua experiência como promotora, mulher, mãe e pessoa que já conheceu o medo de perto. No entanto, este último não a faz uma "vítima de violência doméstica".
Para ela, é importante destacar que um dos termos da Lei da Maria da Penha é que quando se fala de alguém que sofre de violência familiar, é importante usar a expressão: "em situação de".
"É transitório… em situação de não significa que você é sobrevivente. Esse estigma que existe pode soar deturpado e compreende que tal a história a define por completa. A violência doméstica marca, ninguém sai isento de uma relação conjugal, mas também não significa que aquilo vai definir o que a pessoa é", finaliza.
*Ana Beatriz Gonçalves é repórter do Papo de Mãe