O Papo de Mãe acompanhou o lançamento da nova coleção da Turma da Mônica, em parceria com a Fundação Dorina Nowill, em que Dorinha viaja pelo Brasil
Fernanda Fernandes e Maria Cunha* Publicado em 25/03/2022, às 17h00
Na sexta-feira (25), a Fundação Dorina Nowill para Cegos e o Instituto Maurício de Sousa lançaram a coleção “Dorinha pelo Brasil – Inclusão sem barreiras”, no qual a personagem com deficiência visual, Dorinha, viaja pelo Brasil, conhecendo riquezas culturais, aprendendo sobre comidas típicas, música e folclore, e mostrando a importância da inclusão, acessibilidade e do respeito às diferenças.
Dorinha sai do bairro do Limoeiro, ao lado de seu cão-guia Radar e de toda a Turma da Mônica, para conhecer todos os aspectos das cinco regiões do país, e essa longa jornada, repleta de brincadeiras, é contada através de 10 títulos inéditos, sendo cinco histórias em formatos acessíveis – braille, fonte ampliada e com audiodescrição – e cinco histórias diferentes em audiolivro.
Além do público em geral, a coleção é totalmente pensada para crianças e adolescentes cegos e de baixa visão. Por isso, os cinco livros em tinta-braille contam com a audiodescrição das personagens, ambientação das histórias e falas. Já os audiolivros apresentam efeitos sonoros lúdicos.
Com o objetivo de fazer um projeto de grande impacto para a inclusão do Brasil, principalmente nas escolas, Alexandre Munck, Superintendente Executivo da Fundação Dorina e um dos palestrantes do evento, comenta que em 2018 e 2019, junto com o Instituto Maurício de Sousa, começou a pensar na coleção com Dorinha como personagem principal.
Claudia Scheer, coordenadora do projeto, pontua essa experiência como um grande desafio que adorou fazer parte e explica que a temática das histórias surgiu por meio de muitas pesquisas realizadas com diferentes educadores. Ao longo desses anos de estudo, ela relata que os profissionais comentavam que não tinham muitos livros acessíveis que falavam sobre brincadeiras e que sentiam muita falta desse tipo de conteúdo, pensando nisso ela explica:
Os livros trazem uma visão geral, pontos turísticos, sempre com a Dorinha sendo personagem principal, mas ele foca bastante na brincadeira, ele mostra como brinca com uma criança com deficiência visual de uma maneira muito leve, para que depois o educador possa chegar lá na ponta e trazer ideias também de outras brincadeiras”.
Com o objetivo de incluir todos os presentes, o mediador do evento, Fábio Alves, começou sua fala com a descrição própria e do espaço. Além disso, todos os discursos contaram com a presença de uma intérprete de libras.
Em um vídeo institucional da Fundação Dorina Nowill, foi lembrada a importância do braille, que aparentam ser um simples conjunto de pontos, mas, quando elevados, ganham uma importante função social, virando letras, frases e tudo que a imaginação permitir.
Dorinha, assim como a figura que a inspirou, nunca foi limitada pela sua condição de cegueira, é antenada, criativa, e com grande alegria de viver. Cativou toda a Turma da Mônica e virou personagem fixa de suas histórias. Com o objetivo de educar para a inclusão, os personagens interagem, brincam, e ensinam dessa forma que é possível construir um mundo mais inclusivo”.
Diretor executivo do Instituto Maurício de Sousa, Amauri Sousa também falou sobre a parceria entre o Instituto e a Fundação, que começou em 2004, quando Maurício lançou a primeira personagem inclusiva da Turma da Mônica: Dorinha.
“Dona Dorina passou para Maurício todos os seus conhecimentos, ela foi um laboratório para Maurício, que sempre desenvolveu personagens ou se baseando em amigos ou na família. A Dorinha foi [criada] exatamente em cima desse laboratório e dessas informações”.
Maurício de Sousa, on-line, também marcou presença e afirmou estar muito feliz com o lançamento do projeto.
“A Dorina Nowill me ensinou muita coisa sobre esse universo, foi um aprendizado que durou vários encontros, ele inspirou a criar um personagem, a Dorinha. Para mim, é uma honra continuar esse trabalho, que começamos lá atrás, consolidado em projetos de representatividade, como esse que estamos lançando agora. Obrigado a todos por tornarem esse projeto possível, proporcionando o direito de leitura e a inclusão à várias pessoas com deficiência visual".
Cristiano Nowill, filho de Dorina Nowill – grande educadora e inspiração da personagem Dorinha – comenta durante a apresentação do evento que essa coleção de livros é uma demonstração de como foi Dorina, ele diz que ela sempre foi elegante, positiva e desbravadora, “Acho que minha mãe hoje estaria eternamente agradecida, pois o que ela sempre quis foi que os propósitos dela continuassem”.
Aluna da Fundação, Nicole, ao final da apresentação, subiu ao palco, assim como outras crianças, para receber um kit dos livros e falar o que o material acessível representa para a sua cultura e educação “Todos os meus irmãos leem muito gibis e agora que eu vou ter um livro em braile vai ser muito mais legal, pois vou poder ler junto com eles”.
Ao longo do evento, que reuniu diversas crianças do Instituto Dorina Nowill, foi possível ver de perto o quanto a acessibilidade é importante para todos que a necessitam.
Conversamos com Sueli Araujo, avô de Cauã – criança de 8 anos que possui baixa visão – e, ao iniciarmos a conversa, ela se emociona. Nos seus olhos são nítidas as lágrimas, que traduzem a emoção de poder ter um livro para o seu neto ler sozinho, pois é muito difícil encontrar obras acessíveis.
Sueli relata ao Papo de Mãe, “É maravilhoso, porque antes do livro ele tinha gibis e eles tinham letrinhas muito pequenas, então ele pegava e logo dispensava, ou pedia para eu ler para ele. Dessa forma, mesmo ele gostando, distanciava um pouco, por conta de ele não conseguir dar continuidade na leitura”.
Cauã Cincinato conta que adora a Turma da Mônica e que é muito importante para ele o livro ter letras grandes, pois assim ele consegue aproveitar a leitura sozinho.
Christian Santana Rolfino, 9 anos, também é fã da Turma da Mônica e da Dorinha. Ansioso para brincar no Parque da Mônica, o aluno da Fundação Dorina Nowill conta que ficou muito feliz com o lançamento.
Eu gosto muito de livros, de leitura, de escutar livros. Sabe esse mundo de leitura? Eu adoro! É bom que a gente aprende até a falar, manusear os dedos, muitas coisas”. Além disso, ele revela que está saindo da Fundação, pois já aprendeu o braille, o que vai continuar praticando, e o manuseio da bengala.
A nova coleção - que foi realizada através de recursos provenientes da Lei de Incentivo à Cultura, da Secretaria Especial da Cultura e do Ministério do Turismo - conta com aproximadamente 25 mil livros impressos e cinco mil audiolivros gravados, que serão distribuídos gratuitamente para bibliotecas, escolas públicas e organizações sociais cadastradas pela Fundação Dorina.
Em relação a novos projetos, Alexandre Munck conta ao Papo de Mãe que já pensam em uma possibilidade de lançamento no segundo semestre do ano que ainda está sendo trabalhada. “Para o Maurício o projeto foi e é muito importante, então sim, teremos novos projetos e novas parcerias, para assim disseminar a inclusão por todo o Brasil, e por todas as escolas, principalmente”.
*Fernanda Fernandes e Maria Cunha são repórteres do Papo de Mãe
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