Ela enfrentou o machismo e quebrou preconceitos. Foi a primeira mulher a assumir o comando da GCM/SP e a secretaria de segurança do município
Mariana Kotscho* Publicado em 25/08/2021, às 11h43
Além de já ter comandado a GCM-SP (Guarda Civil Metropolitana de São Paulo) e de ser secretária de Segurança Urbana do Município de SP, Elza Paulina de Souza é também mãe e avó e confessa: em casa quem manda é a neta. "É o amor maior do mundo, eu queria ter mais tempo para ficar com ela", se derrete Elza sobre Gaia, a netinha de 4 anos.
Após 34 anos de Guarda Civil e tendo alcançado o posto de comandante, ela aceitou ano passado o convite do então prefeito Bruno Covas para assumir a secretaria. Nos dois cargos rompeu barreiras: foi a primeira mulher a assumir essas funções.
Quando estava na Guarda Civil Metropolitana, Elza Paulina montou o programa Guardiã Maria da Penha da GCM (lembrando que a Lei Maria da Penha completou este mês 15 anos). O programa foi criado em 2014 como parte do programa de enfrentamento à violência contra a mulher - para promover a prevenção da violência e a fiscalização de medidas protetivas expedidas pela justiça.
Atualmente, o Guardiã conta com 9 viaturas na cidade de São Paulo. O Ministério Público de SP encaminha as vítimas com medidas protetivas para que a GCM passe a acompanhar essas mulheres, fazendo rondas para protegê-las e garantir que o agressor realmente não chege perto delas. Elas passam a ser inseridas numa rede de proteção para que rompam o ciclo de violência. É instalado um aplicativo no celular da mulher com um botão de pânico que, se acionado, cai direto na central da guarda. "Nossas equipes são capacitadas para uma escuta ativa e um acolhimento humanitário", diz Elza.
E ela ressalta que toda a sociedade é responsável pelo combate à violência doméstica:
É um ato de humanidade pedir socorro se alguém visualizar uma situação da violência. Ligue para 190 (PM), 153(GCM), 156(Prefeitura), não importa. Tem que dar um basta. Em briga de marido e mulher a gente se mete, mete a colher, a cabeça a mão! Tem que parar de alguma forma."
E tem mais números para denunciar como o 180 (central de atendimento à mulher) e disque 100.
Em outras cidades brasileiras também existe o programa guardiã Maria da Penha ou guarda Maria da Penha, mas a própria Maria da Penha disse em entrevista este mês ao Papo de Mãe que ainda falta a lei ser aplicada em todos os municípios do país.
Elza Paulina de Souza conta que não foi fácil sair da GCM após 34 anos para assumir a secretaria, um novo desafio na vida dela: "Temos fortalecido cada vez mais a Guardiã Maria da Penha em São Paulo e é meta de governo desconstruir o machismo estrutural de dentro pra fora".
Machismo que Elza combateu desde cedo na carreira, pois engravidou quando já era guarda e foi mãe solteira. "A gente passa por coisas que só hoje entende que foi violência de gênero".
"Hoje como avó só sinto por não ter mais tempo para estar com minha neta", diz a vovó Elza. E finaliza:
Filho a gente ama com muito peso, a gente se cobra muito. Avó é o amor com experiência, mais leve".
*Mariana Kotscho é jornalista