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"Fui contratada grávida"

Muitas mulheres ainda vivem o conflito entre carreira e maternidade, mas há empresas que inclusive contratam profissionais mesmo que ela esteja grávida

Mariana Kotscho* Publicado em 04/02/2022, às 06h00

Natália e a filhinha Giovana, de 6 meses
Natália e a filhinha Giovana, de 6 meses

Natália Arico, que trabalha no setor de RH da empresa Ticket Log há menos de um ano, foi contratada quando estava grávida de 6 meses, algo ainda raro de acontecer. Ela confessa que foi pega de surpresa com a contratação: "Mesmo com algo que deveria ser normal, nós mulheres sabemos como o mercado tem preconceito quando desejamos exercer o papel de mãe. Infelizmente, existe o medo até de informar que você está grávida para a empresa." 

Desta vez foi totalmente diferente de tudo o que ela já tinha vivido. "Desde a primeira entrevista, deixei clara a minha situação e a notícia da minha gravidez foi recebida com muito respeito e apoio, tanto de quem seria minha futura gestora, como também dos demais executivos que participaram do meu processo. Uma frase que me marcou muito durante o processo foi: “queremos construir algo com você a longo prazo”. Eu já fiquei apaixonada pela empresa antes mesmo de começar".

Ela conta que chegou a cogitar não participar do processo, até por saber como muitas empresas reagem ao receber essa notícia. "Antes mesmo da Edenred, fui abordada por um headhuntere, quando dei a notícia da gravidez, ele agradeceu minha atenção e disse que não poderia seguir comigo no processo. Isso é algo que machuca demais uma mulher, não só pela vaga perdida, mas pelo sentimento de rejeição por conta de uma condição natural".

É um misto de emoções: o medo de ser julgada por decidir viver a maternidade é grande, pois infelizmente vemos muitos casos que não terminam bem, principalmente na volta da licença. (Natália Arico)

Para Natália, faz toda a diferença trabalhar numa empresa que respeita a maternidade: "O respeito e o acolhimento foram e são tão grandes que você inicia com uma energia e uma força de fazer valer a pena cada dia na empresa!". A pequena Giovana está com 6 meses e mamãe voltou a trabalhar há 2 semanas.

Segundo Lívia Alves, Diretora de Recursos Humanos da empresa onde Natália trabalha,  foram desenvolvidas ali várias iniciativas dentro do programa Futura Mamãe: a licença maternidade é estendida para seis meses. Na assistência médica, não há carência e coparticipação para os exames do pré-natal. Há auxílio-creche, flexibilização de horário e trabalho em modelo híbrido (parte presencial e parte em home office, que permitiu à Natália, por exemplo, adaptar a rotina junto com a filha e "trabalhar com muito mais foco", como ela mesma diz).

Tudo isso fez com que a mamãe de primeira viagem nem pensasse em parar de trabalhar.

Livia concorda que os tempos são outros e não cabe mais nenhum preconceito em relação às mulheres/mães no trabalho:  "Tal preconceito nunca deveria ter existido e hoje é cada vez menos aceito pela sociedade. Aqui na Edenred, temos iniciativas de diversidade e inclusão e promovemos a equidade e respeito em todas as relações com os nossos colaboradores, e isso inclui o olhar para eles como um todo, independente de gênero, orientação sexual, raça, credo etc. Com as mulheres, não é diferente. Independentemente de serem mães, elas devem ser analisadas como profissionais e em relação ao seu fit cultural com a empresa."

Desde 2018, a empresa tem como parte da estratégia de sustentabilidade do grupo o aumento da representatividade das mulheres em posições executivas. O objetivo é o de chegar ao índice de 40% até 2030. Na Edenred Brasil, esse índice já está em 39%. "Localmente, também estamos olhando para o aumento da presença de mulheres a partir de posições gerenciais", finaliza Lívia.

No ano passado, contratei para o meu time duas mulheres grávidas. Uma delas já sabia da gestação durante o processo seletivo e, após a contratação teve cerca de três meses de trabalho antes da licença-maternidade. A outra descobriu a gravidez durante o processo e me informou, enquanto gestora da vaga. Ela se surpreendeu quando soube que seguiria para as próximas etapas. E esse tipo de situação não deveria ser digno de surpresa. As duas performaram muito bem antes de seus períodos de licença e demonstraram ser ótimas escolhas. (Lívia Alves)

Assista ao Papo de Mãe sobre carreira e maternidade

Contratar uma grávida dá prejuízo?

Não! Livia Alves explica que quando os processos seletivos visam a escolha de profissionais que têm afinidade com a empresa, qualificação e potencial de crescimento, as chances de ganhos para eles e para as contratantes são inúmeras. "Não tivemos prejuízos por contratarmos duas mulheres grávidas para o mesmo time. Além de ser um dever da empresa cuidar do bem-estar de seus colaboradores, contratamos os profissionais pensando no futuro, na construção de uma carreira de sucesso. Visamos uma parceria de longo prazo com todos eles."

O programa da empresa garante ainda licença-paternidade de 20 dias e acompanhamento psicológico.

Os colaboradores podem também gerir suas rotinas e seu tempo, assim ficam mais satisfeitos com a empresa e, consequentemente, tendem a gerar mais resultados. 

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Contratação durante a gravidez

De acordo com as Estatísticas de Gênero do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), divulgadas em março deste ano, o nível de ocupação das mulheres de 25 a 49 anos que vivem com crianças de até três anos era de 54,6%, contra 89,2% dos homens da mesma faixa etária e nas mesmas circunstâncias. Já segundo um estudo publicado em 2016 pela Fundação Getúlio Vargas, quase metade das mulheres que tiram licença-maternidade está fora do mercado de trabalho em até 24 meses após o nascimento da criança.  

Uma realidade que ainda precisa mudar, com inciativas como as mostradas acima.

*Mariana Kotscho é jornalista, repórter do Papo de Mãe, comentarista do Bem Estar da TV Globo, consultora do Instituto Maria da Penha e mentora de curso para jornalistas da Universidade de Columbia.

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