Conheça a lenda do “leite de bruxa” em bebês que nasciam com aumento de mama
Dr. Moises Chencinski* Publicado em 25/01/2021, às 00h00 - Atualizado em 26/01/2021, às 21h31
Fato real. Aconteceu comigo. Tenho uma cicatriz em região torácica direita de 4 cm. Foi uma drenagem de abscesso, causado por massagem e apertos porque, quando eu nasci, estava inchado e saía um líquido leitoso.
No século 17, havia uma crença de que quando uma criança tinha esse aumento de mama, independente de ser menino ou menina, “bruxas” viriam roubar o leite que saía para usar em rituais mágicos. Para evitar essa ação, se fazia massagens e se retirava esse “leite de bruxa”, evitando, assim, a visita indesejada.
Estudos recentes foram publicados (2018) sobre crenças folclóricas na Índia, além da história do “leite de bruxa”, que se mantém. Se o recém-nascido for do sexo masculino e apresentar aumento da mama, se massageia até extrair o leite e acredita-se que o tamanho das mamas se normaliza na idade adulta. Já se for do sexo feminino, a massagem realizada de sete dias até sete semanas de vida garante que os seios terão boa forma na época do casamento.
Muita gente ainda chama assim (assustador, né?), sem saber a origem da expressão.
O aumento de volume de mamas é um quadro não muito comum em crianças (até 5% em estudos de 1980), mas que acontece na primeira semana de vida, em meninos e meninas, pode ser de um lado só ou dos dois, com ou sem saída de leite (galactorreia neonatal – assim que se chama), mais comum em bebês que nascem no tempo do que em prematuros.
A causa mais aceita é a passagem de hormônio da mãe pela placenta ou através do leite materno, causando aumento do tecido mamário. Mas, muita calma nessa hora. Nunca suspenda a amamentação por conta disso.
A consulta pediátrica esclarece esse quadro que pode até ter outras causas como uso de alguns medicamentos, por exemplo.
Na imensa maioria das vezes (e lembre-se que é bem raro) não há motivo para se preocupar e, se ninguém apertar ou mexer, costuma se resolver sozinho entre os dois e os seis meses de idade.
Existem sim alguns casos em que é necessário ter atenção. Se a saída do leite é de um lado só, sem ninguém mexer ou apertar, se persistir ou se aparecer secreção com sangue, procure conversar com seu pediatra para uma avaliação.
Além disso, se o local ficar vermelho, quente, o bebê chora com dor quando mexe é importante examinar.
Às vezes, é mais importante saber o que não fazer. Já faz muito tempo (século 19) que as seguintes ações são contraindicadas por conta de complicações (apesar de que, em alguns lugares no mundo isso ainda ser um costume):
– Não massagear.
– Não estimular.
– Não apertar ou espremer para retirada do leite.
Essas ações podem aumentar a produção da secreção, causar inflamação e até abscessos, que necessitam de tratamento com medicação (anti-inflamatórios, antibióticos) ou até drenagem cirúrgica (muito mais raro ainda).
Os pais, nessa situação, devem buscar atendimento pediátrico inicial para esclarecimento.
Os pediatras e profissionais de saúde devem se informar, examinar, tranquilizar os pais, orientar apenas a observação, explicando o que não fazer e acompanhar a evolução.
*Dr. Moises Chencinski é pediatra e homeopata. Presidente do Departamento Científico de Aleitamento Materno da Sociedade de Pediatria de São Paulo (2016 / 2019 – 2019 / 2021). Membro do Departamento Científico de Aleitamento Materno da Sociedade Brasileira de Pediatria (2016 / 2019 – 2019 / 2021). Autor dos livros HOMEOPATIA mais simples que parece, GERAR E NASCER um canto de amor e aconchego, É MAMÍFERO QUE FALA, NÉ? e Dicionário Amamentês-Português
Editor do Blog Pediatra Orienta da Sociedade de Pediatria de São Paulo.
Criador do Movimento Eu Apoio leite Materno.