Papo de Mãe
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Horroroso ou maravilhoso? Uma discussão sobre parentalidade com a psicanalista Vera Iaconelli

Nos próximos dias 28, 29 e 30, a doutora em psicologia Vera Iaconelli ministra minicurso gratuito com a Casa do Saber, e discute sobre parentalidade

Ana Beatriz Gonçalves* Publicado em 28/09/2021, às 09h05

Vera Iaconelli é Diretora do Instituto Gerar de Psicanálise, autora de “O Mal-estar na Maternidade” e "Criar Filhos no Século XXI", e também escreve para a Folha de S. Paulo
Vera Iaconelli é Diretora do Instituto Gerar de Psicanálise, autora de “O Mal-estar na Maternidade” e "Criar Filhos no Século XXI", e também escreve para a Folha de S. Paulo

Qual é o seu ideal de "mãe" ou "pai"? Será que ele corresponde com a realidade? E será que a parentalidadeé realmente uma experiência horrorosa para alguns, mas maravilhosa para outros?

Esses e outros milhões de pontos de interrogações que envolvem o criar outro ser humano, seja ele filho biológico ou adotivo, dentro de uma perspectiva heteronormativa ou não, podem e devem ser cada vez mais debatidos. A começar pela dualidade que é normalmente imposta pela sociedade – e cultivada culturamente –, que ser pai e mãe é uma mão de via única, ora extremamente positiva ou ora terrivelmente negativa.

"Lidamos com tudo isso de uma forma muito complicada. Existe uma dificuldade de dizer que é uma experiência desafiadora, nem boa e nem ruim. Se a gente quer pensar nas próximas gerações, vamos ter que debater", argumenta a psicanalista Vera Iaconelli.

Com a proposta de "desnormalizar" essas questões, a especialista e Diretora do Instituto Gerar de Psicanálise, criou em parceria com a Casa do Saber o minicurso "Sobre mães e pais: Uma visão psicanalítica" totalmente gratuito e online, que acontece agora nos dias 28, 29 e 30.

Se tornar pai/mãe é assumir um papel inédito. A gente entende que ser filho é uma condição inescapável, certo? Você não escolhe, e aí que está essa passagem, é algo que acaba trazendo tudo que a gente imaginava e via em nossos pais, à tona".

Sugestão: Entrevista com o psicanalista Luiz Hanns no canal do Yotube do Papo de Mãe

Um dos pontos que Vera toca em seu estudo é a questão da idealização. "Nenhuma dessas duas perspectivas é a correta. A parentalidade envolve grandes desafios e transformações, que não precisam ser a princípio ruins. Mas colocar na conta o que você precisa pra se transformar em pai ou mãe, te impede de ter uma experiência própria."

Segundo ela, que também é colunista no jornal Folha de S. Paulo, a comparação com as vivências alheias é um grande vilão na jornada dos pais. "Ficam tão atormentados com a experiência dos outros e com esses filtros. A nossa tentativa, com o curso, é de esvaziar esses ruídos", explica.

O gestar e parir

No caso das mães que gestam ou gestaram, a expectativa em torno da maternidade perfeita e da busca pelo amor infinito é constante. A psicanalista diz que é preciso entender o processo biológico de outra forma, que certamente não é nada (ou pelo menos pouco) só romantizada.

"Eu trabalho muito a diferença entre  o ciclo de gravidez com a experiência de torna-se mãe. São duas coisas que conversam, mas não dizem tudo a respeito uma da outra", comenta. Inclusive, foi através da sua experiência como mãe, que Vera despertou seu interesse para se aprofundar no tema da parentalidade.

"Sou mãe de duas mulheres, uma de 21 e outra 24 anos. Meu estudo começou lá atrás, há quase 25 anos, quando fui me questionando ao me tornar mãe. Depois que passei desse ciclo perinatal – que passa pela gestação, parto e puerpério – que comecei a pensar nessas condições sociais, de gênero e classe social".

Na visão da especialista, é importante que pais, mães e cuidadores, entendam o mundo que envolve o criar, e principalmente, seus diferentes pontos de vista. Vera Iaconelli diz que percebeu uma crescente na procura desse entendimento dos homens.

"Sozinhos, juntos com seus companheiros ou companheiras, o tema tem saído dessa chave de gênero, inclusive homens trans e mulheres trans. A parentalidade não tem uma relação direta com gênero. É isso que temos que promover para a próxima geração", afirma.

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Para Vera, hoje em dia a procura pela "verdade" em torno da criação e das etapas que envolvem o gestar, criar e cuidar, são grandes falácias. "Atualmente os pais estão muito capturados nessa forma e até perdem a capacidade de serem espontâneos. 'A verdade sobre a amamentação', isso e aquilo, não temos isso", argumenta.

Ainda que exista toda uma conjuntura social e econômica que imponha tais "preceitos", Vera comenta que muita coisa mudou na última década, em especial a ampliação (positiva) de mais pessoas participando da parentalidade. 

"Mudou bastante a forma de pensar raça e classe como fatores importantes, por exemplo. Hoje a gente já fala com um pouco mais de complexidade, mas ainda existe quem queira ditar como horroroso ou maravilhoso. Isso ainda é muito polarizado".

Vera Iaconelli vai apresentar três temas importantes em seu curso gratuito com a Casa do Saber, sendo eles, respectivamente, "O desejo de ter filhos", "As necessidades psíquicas – suas e do bebê" e a reflexão "O que é exercer a parentalidade hoje?".

Quem desejar se aprofundar ainda mais no assunto, tem a oportunidade de continuar o curso com mais três aulas pagas, que segundo a psicanalista, trazem um olhar um pouco mais aprofundado para questões externas, como, por exemplo, a sociedade, cultura e contextos históricos.

Para se inscrever no minicurso gratuito que começa nesta terça-feira (28), confira o site oficial da Casa do Saber clicando aqui.

*Ana Beatriz Gonçalves é jornalista e repórter do Papo de Mãe

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