Roberta Manreza Publicado em 07/11/2016, às 00h00 - Atualizado às 09h44
Por Natália Belizario – AUN USP
Com quase 60% da população acima do peso, o Brasil está entre os países que mais sofrem com a obesidade. Alimentação saudável, prática de exercícios físicos e acompanhamento médico e nutricional são essenciais para perder peso sem perder saúde. Porém, muitas vezes a estética priorizada e o emagrecimento trazem outros problemas. Com adolescentes, essa situação torna-se ainda mais delicada.
O projeto “Hábitos saudáveis, meninas saudáveis”, desenvolvido na Faculdade de Saúde Pública, teve como objetivo principal a busca por uma melhora na qualidade da alimentação, sem priorizar questões estéticas. “O foco nunca foi modismos ou perda de peso”, disse Erika Toassa, doutora em nutrição e autora do projeto ao lado de Sonia Tucunduva, Paulo Henrique Guerra, Ana Carolina Leme e David Lubans.
O projeto
Inspirado na iniciativa australiana “Neat Girls”, que avaliou comportamentos alimentares de adolescentes do sexo feminino, “Hábitos saudáveis, meninas saudáveis” atuou em 10 escolas técnicas espalhadas por todas as regiões do São Paulo – Os estudos mostram que quando você faz uma intervenção direcionada a um grupo, os resultados encontrados são melhores. Por isso, só meninas, justificou Erika, sobre a escolha do grupo amostral. A pesquisa foi também uma continuidade de um projeto maior chamado “Atitudes alimentares e seus determinantes em adolescentes de escolas técnicas do município de São Paulo”, da orientadora Sonia Tucunduva Phillip.
As escolas técnicas foram divididas por sorteio entre grupo controle e grupo intervenção. Das 253 adolescentes, 142 participaram da intervenção com aulas, sessões de educação física, seminários, workshops culinários e troca de mensagens por Whatsapp. O restante das meninas respondeu à um questionário, sem mudanças na rotina.
Ao longo de 6 meses, as pesquisadoras trabalharam em conjunto com as professoras das ETECs, que eram aliadas no monitoramento dos resultados. Erika, que desenvolveu sua pesquisa de doutorado com base no projeto, preocupou-se com o recorte da importância das refeições em família. Por isso, as alunas recebiam metas semanais, dentre elas o aumento das refeições realizadas de maneira conjunta.
Impactos das refeições em família
Realizar as refeições diárias em família traz benefícios nutricionais, emocionais e tem implicações sobre o peso corporal. Adolescentes que realizam pelo menos 3 refeições por semana com a família são 12% menos propensos a terem excesso de peso. Além disso, existe uma associação inversa com comportamentos de alto risco na juventude. O risco de sintomas depressivos, do uso de substâncias tóxicas e de desenvolvimento de transtornos alimentares é menor nos indivíduos que realizam as refeições de maneira conjunta.
Ainda pouco pesquisado no Brasil, o assunto das refeições em família tem ganhado atenção em outros países do mundo. Erika utilizou a bibliografia estadunidense para pautar sua tese. “Quando eu comecei a estudar refeições em família em 2011, a gente tinha uma média de 170 artigos publicados. Quando eu estava terminando o doutorado em 2015, já eram 753. É um assunto que vem crescendo de uma forma expressiva, mas pouco se fala sobre isso no Brasil”. Questionada sobre os motivos desse crescimento expressivo, a nutricionista disse que o assunto do consumo alimentar está um tanto saturado e os pesquisadores estão buscando olhar outros aspectos da alimentação. “A gente já sabe que as pessoas comem mal e qual deve ser a alimentação. Tem outros fatores que ajudam a determinar a influência do consumo alimentar.”
Erika tem perspectivas de dar continuidade a pesquisa sobre refeições em família no Brasil. Na apresentação de seu doutorado, utilizou uma das pinturas mais conhecidas da história para ilustrar a importância do assunto. “A primeira foto da minha defesa do doutorado foi a santa ceia. É a primeira imagem que nós temos de refeições em família.”
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