Professores mais felizes e alunos motivados. O ensino integral está indicado no Plano Nacional de Educação e passa a ser adotado pelo Estado de São Paulo
Raphael Preto Pereira* Publicado em 15/07/2021, às 16h48
Na última segunda-feira o governo de São Paulo anunciou a prorrogação do Programa de Ensino Integral (PEI). A partir do ano que vem a iniciativa atingirá 1.855 escolas. Hoje, a inciativa está presente em 1.077. A medida acarretará em uma ampliação da carga horária dos estudantes nas escolas para no mínimo sete horas por dia para um terço da rede estadual.
Fatores como a alta satisfação dos educadores que participam do projeto, 95% se sentem mais felizes trabalhando nele, segundo uma pesquisa da própria secretaria da Educação, e o rendimento acima da média das escolas participantes, são pontos que contribuíram para a ampliação do programa.
Para Bruna Waitman, coordenadora do Programa de Ensino Integral da Secretaria da Educação de São Paulo, a satisfação dos educadores advém do fato de que diferentemente da maioria dos educadores, aqueles que participam do ensino integral ficam em apenas uma escola. “Há, portanto, um impacto da relação com a comunidade escolar. Além disso, os professores também são tutores dos alunos em projetos específicos, além de ministrarem as matérias comuns”, explica Bruna.
A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) define que a "Educação Integral" deve buscar o desenvolvimento global do ser humano, e fazer com que os processos de educação sejam nas escolas.
O ensino integral significa uma ampliação da carga horária, já a educação integral tem os paramêtros mais amplos e focados nas habilidades socioemocionais e nas vivências dos estudantes.
O documento, homologado em 2017, detalha várias dimensões para a educação integral. Uma delas, é a dimensão emocional, que trata especificamente da formação de vínculos do estudante e do desenvolvimento do seu autocuidado e da autoconfiança.
Em um relatório sobre a alfabetização no ensino integral, o Instituto Ayrton Senna apontou que: "a ideia de “educação em tempo integral”, não se limita à ampliação da jornada escolar, mas pressupõe uma mudança de visão das redes de ensino sobre o processo educacional e sobre o próprio estudante. Essa visão considera as crianças e os jovens em sua inteireza e diversidade, situando-os no centro do processo educativo e propõe que a escola desenvolva com intencionalidade um conjunto de competências fundamentais para viver no século 21, que combina aspectos cognitivos e socioemocionais."
"As competências socioemocionais, como empatia, foco, curiosidade, dentre outras, fortalecem a aprendizagem escolar e fazem diferença em características pessoais e interações sociais presentes e futuras dos estudantes, dando-lhes subsídios para seu desenvolvimento pleno."
Por conta de estarem em apenas uma escola, os professores que participam do ensino integral também recebem uma gratificação no salário. No estado de São Paulo, essa gratificação é de 75% no salário base do docente.
Recentemente, um relatório produzido pela OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), com apoio do Todos Pela Educação, apontou que apenas menos de 20% dos professores concordam com o valor que recebem para dar aulas.
Segundo dados divulgados pela secretaria estadual de Educação de São Paulo, as escolas que fazem parte do programa de ensino em tempo integral também têm um rendimento escolar acima da média. Um levantamento feito pela pasta mostra que entre as escolas estaduais, as 33 escolas com melhor desempenho no IDEB são do ensino integral.
O impacto no desenvolvimento educacional das unidades que participam do projeto também pode ser medido por uma análise do desenvolvimento das escolas comuns e as que fazem parte do ensino em tempo integral. O primeiro grupo teve um crescimento de cerca de 0,6 pontos no IDEB enquanto o segundo grupo cresceu 1,2 pontos.
O Plano Nacional de Educação (PNE) concebeu em 2012 uma série de metas para melhorar a qualidade da educação do Brasil. Uma delas prevê o oferecimento de educação em tempo integral para no mínimo 25% dos alunos matriculados em ensino integral até 2024. Com a expansão anunciada, São Paulo já atingiu essa meta “Estamos muito contentes porque o estado de São Paulo vai chegar 37 % das escolas da rede na modalidade de ensino integral”, comemora Bruna.
O modelo de educação integral também traz grandes vantagens para os estudantes. “Quem faz ensino integral tem uma maior propensão para seguir carreiras com maior impacto social e valor agregado”, afirma Lia Rolnik, gerente de implantação do Instituto Sonho Grande.
O relatório divulgado pelo instituto também mostra que jovens que fizeram ensino integral também tendem a ter mais participação em carreiras relacionadas com a educação. O relatório aponta que cerca de 9.94% das pessoas de Pernambuco que cursaram ensino médio integral e faculdade optaram por fazer uma graduação que tenha relação com educação. Para quem cursou ensino médio de maneira parcial a porcentagem é de 5.91% .
Também há uma relação entre o modelo do novo ensino médio, que deve ser implementado durante os próximos anos e demanda a inclusão de mais matérias optativas, além de uma ênfase no projeto de vida dos estudantes. O que, em São Paulo, já acontece no ensino médio integral.
*Raphael Preto Pereira é jornalista e repórter do Papo de Mãe