Se o afogamento em casa é tão comum, por que a sociedade não presta atenção nesse problema da maneira como deveria?
Rafaele Madormo* Publicado em 22/11/2020, às 00h00 - Atualizado em 05/01/2021, às 11h28
Apesar da sua alta incidência e letalidade, o afogamento não é tratado pela sociedade com a relevância que deveria, incluindo as autoridades.
E para entender a magnitude do problema é imprescindível conhecer os dados e, provavelmente, se aliar a àqueles que lutam para chamar atenção para o drama que esse problema silencioso representa para a sociedade, pois além do custo emocional para as famílias diretamente afetadas, há um enorme custo social envolvido com a perda ou a incapacitação de pessoas, na sua maioria jovens.
Fatos
Com essa realidade tão chocante seria esperado que a sociedade estivesse mobilizada para diminuir esse trágico problema, mas, infelizmente, como já afirmamos, o problema ainda está longe de ser prioridade no cotidiano.
Não sabemos dizer, e acreditamos que melhor do que fazer um estudo sociológico para entender a origem do descompasso do comportamento do brasileiro com a assustadora realidade provocada por esse incidente aquático, é investir nossa energia em ações para mudar a triste realidade que vivemos.
Os profissionais que se dedicam a segurança aquática afirmam que a melhor estratégia para combater o afogamento é a conscientização.
Informar para conscientizar é um processo relativamente simples, mas que demanda vontade, empenho, constância e que precisa envolver profissionais da área e as famílias.
Por isso, algumas entidades investem muito do seu tempo para essa causa. Nós do INATI, Instituto de Natação infantil, desde 2012, instituímos Novembro como o Mês Nacional de Segurança Aquática que reúne escolas de natação, academias, clubes e entidades públicas e privadas para chamar atenção para o problema. A campanha vem sendo realizada com muito êxito em todo o país e cresce a cada ano.
A escolha de Novembro foi estratégica por ser o mês as vésperas do verão, período do ano que acontece mais incidentes aquáticos porém, dentro da lógica da segurança aquática a informação deve ser transmitida periodicamente e, felizmente, boa parte das escolas de natação entendeu esse processo, por isso transmitem informações e, além da natação, ensinam práticas de segurança aquática o ano inteiro. Assim, novembro, mês da segurança aquática, é um grande fechamento, reforçando aquilo que vem sendo ensinado por todo o ano.
Um outro fato importante é utilizar os alunos, na sua maioria crianças, como vetores para a transmissão de informações e comportamentos para a difusão junto as famílias. Disponibilizamos dezenas de materiais educativos, jogos e passatempos para crianças e adultos, gratuitamente, em nosso site que pode ser baixado por qualquer pessoa (www.inati.com.br) e serve como complemento as atividades das aulas. Essa é uma aposta de transformação cultural no médio e longo prazos, mas que já vem apresentado resultados nesse 8 anos de campanha
O INATI, baseia todo seu trabalho na metodologia SAFER 3, desenvolvida pela fundação americana Stop Drowning Now, nossa parceira há muitos anos, que preconiza os seguintes pontos para uma prevenção adequada:
Quando pensamos em ambiente aquático temos que ter consciência que não há segurança absoluta, por isso não se deve usar a palavra seguro, que provoca a falsa sensação de ausência de risco. O correto é utilizar a expressão Mais Seguro, com a intenção de deixar claro que procuramos diminuir a possibilidade de incidente, mas que ela sempre existe.
Com esse conceito em mente devemos fazer a seguinte pergunta quando estivermos próximo ou dentro de um ambiente aquático: Onde estão os riscos? Essa pergunta é chave para que possamos mapear os riscos e evitá-los ou, quando não é possível, minimizá-los. A pergunta se encaixa para qualquer ambiente seja numa piscina, em águas naturais como rios, praias, lagos, etc.. ou em casa.
Outro ponto de grande importância é pensar que a segurança aquática é feita com Camadas de Proteção, ou seja, um conjunto de medidas que se complementam para diminuir os riscos.
O método Safer 3 divide em 3 áreas de atuação. Águas Mais Seguras, Crianças (Pessoas) Mais Seguras e Respostas Mais Seguras.
Águas mais seguras: identificar os riscos inerentes a qualquer tipo de espelho d'água (piscinas, rios, lagos, prais, represas, etc…). No caso de piscina a utilização de cerca de proteção com altura mínima de 1,5 metros (se forem grades tem que ser verticais), com portão auto travante. Tampas de ralo anti aprisionamento, entre outras medidas. No caso de águas naturais como praias, lagos, rios, etc.., respeitar a sinalização das bandeiras e placas, verificar onde há corrente de retorno e ficar longe (nas praias buscar informação com o guarda vidas), não ficar distante da criança (o ideal é a distância de um braço). Entender que boia (flutuador) não é material de segurança, por isso não confiar. Se for andar em qualquer embarcação utilizar colete salva-vidas (mesmo que saiba nadar) entre outras medidas.
Crianças (pessoas) mais seguras: reduzir os riscos para as pessoas com algumas medidas como: ter consciência que nenhuma pessoa está livre do afogamento, independentemente de sua habilidade aquática, por isso é necessário respeitar seus limites. Mesmo adultos com habilidade aquática, nunca devem nadar sozinhos, pois podem ser acometidos de um mal súbito. No caso de crianças, a supervisão atenta e constante de um adulto é mandatória, quando ela estiver próxima ou dentro da água. Aulas de natação e aquisição de competências aquáticas são essenciais para diminuir os riscos de afogamento.
Respostas mais seguras: se um incidente acontecer, podemos reduzir os danos com uma reposta rápida, por isso é importante que as pessoas aprendam técnicas como RCP (Reanimação Cardio Pulmonar) que auxiliam e podem minimizar os danos, até a chegada da ajuda profissional. Saber o telefone do SAMU e Bombeiros (incluindo as crianças) para acionar em caso de emergência, entre outras medidas.
O afogamento é um grave problema de saúde pública e deveria ser entendido como tal pela população. Para isso, precisamos trabalhar para conscientizá-la, em todos os extratos sociais, já que é um incidente democrático e atinge a todos, indistintamente.
Como você chegou até aqui, agradeço muito por ter lido todo o texto e espero que as informações o tenham ajudado a assumir uma nova postura para prevenir o afogamento, afinal ele está presente, muito próximo de todos, mas com posturas preventivas adequadas diminuímos o risco.
*Rafaele Madormo é Diretor Executivo do INATI
Se quiser fazer parte dessa luta, basta repassar as informações para sua família e baixar gratuitamente ou compartilhar materiais sobre segurança aquática, disponibilizados em nossas redes sociais: Instagram: Inati.Brasil – Facebook: InatiBrasil – Pinterest: INATI – Site: www.inati.com.br