Estamos no dezembro verde, mês de conscientização da paralisia cerebral. E temos que falar sobre isso para quebrar preconceitos
David Nordon* Publicado em 01/12/2021, às 11h49
Esquecido em 2020, por conta da pandemia do coronavírus, o Dezembro Verde foi instituído, há alguns anos, para chamar a atenção para a questão da paralisia cerebral que é, por definição, uma lesão no cérebro em desenvolvimento a qual pode ter acontecido ainda no ventre materno, no nascimento ou após, até os dois anos de vida. Essa condição pode levar a alterações do movimento, da postura, do equilíbrio, da coordenação e do tônus muscular. As desordens motoras são geralmente acompanhadas por alterações na cognição, comunicação, comportamento, epilepsia, problemas musculares e ósseos.
O acompanhamento de uma equipe multidisciplinar com neurologista, pediatra, oftalmologista, fonoaudiólogo, fisioterapeuta, terapeuta ocupacional, psicólogo, educador físico, nutricionista, além do ortopedista, é essencial para a melhor qualidade de vida da criança com paralisia cerebral.
A medicina avança e com ela os tratamentos que possibilitam mais bem-estar e qualidade de vida. Hoje temos terapias alternativas para o tratamento da espasticidade - aumento involuntário da contração muscular -, que compromete o movimento ao enrijecer qualquer músculo do corpo humano. Uma delas é a infiltração com a toxina botulínica, indicada para crianças pequenas ou casos mais leves de rigidez. O procedimento também permite perceber quais serão os efeitos da cirurgia, caso seja necessária. A toxina desativa a musculatura temporariamente. É como se tivéssemos feito a cirurgia sem fazer. No entanto, com a pandemia, muitos pacientes foram privados dos seus tratamentos, apresentando regressões. As cirurgias e aplicações de toxina botulínica também foram postergadas.
As cirurgias ortopédicas contribuem positivamente, principalmente quando realizadas para a melhora da contratura dos membros inferiores. O procedimento tem por finalidade promover benefícios funcionais e será colaborativo no sentido de diminuir os comprometimentos da espasticidade. Intervenções cirúrgicas devem ser realizadas quando se esgotam as possibilidades de um tratamento menos invasivo aos pacientes. Na paralisia cerebral, nosso objetivo é melhorar a capacidade de a criança deambular (modo de caminhar) ou trazer mais conforto, tanto para a criança quanto para o cuidador.
Crianças tetraplégicas com musculatura rígida são as que apresentam maior risco de luxação. A dor no quadril ocorre principalmente nos momentos de movimentação. Essa questão é um fator de grande preocupação, que merece atenção precoce e contínua nas crianças com paralisia cerebral.
Olhar com reverência e entender a condição dessas pessoas são os primeiros passos para uma sociedade mais inclusiva e respeitosa. Não podemos nos esquecer de que a criança com paralisia também compreende o mundo e tem sentimentos. Por esse motivo, movimentos como o Dezembro Verde não devem ser esquecidos e são extremamente necessários.
*David Nordon é médico ortopedista pediátrico pelo HC FMUSP - Professor da disciplina de Saúde Pública da PUC-SP (Campus Sorocaba) e de ortopedia e medicina preventiva do Estratégia MED (curso preparatório On-line para provas de Residência Médica), preceptor de Ortopedia Pediátrica do Hospital do Pari e Pesquisador do Instituto de Ortopedia do Hospital das Clínicas (HCFMUSP).