Como mãe (ou pai), você pensa em educar seu filho em habilidades domésticas e culinárias, ou você pensa que cozinha é lugar só para meninas?
ARIELA DOCTORS* Publicado em 19/04/2022, às 08h00
Ao longo da história da humanidade, as mulheres sempre estiveram envolvidas com
a alimentação: coletando e cultivando alimentos, no amamentar, no cozinhar e
alimentar suas famílias.
Não à toa comida é no feminino. Amamentação, colheita, alimentação,fermentação, cozinha, agroecologia…tudo no feminino.
No entanto, na maioria das sociedades, as mulheres tendem a ser mal
representadas em atividades de mais prestígio associadas à alimentação. Ao
pensarmos nos chefs de cozinha famosos, nos chefs Michelin, pensamos
automaticamente em homens.
A culinária enquanto tarefa doméstica, destinada à alimentação da família e da
comunidade sempre foi e é muito feminina. A entrada masculina, não se deu dentro da esfera doméstica, mas sim, na esfera pública, profissional, remunerada.
Na antiguidade e no Renascimento homens já trabalhavam nas cozinhas dos palácios
para reis e membros da nobreza. Com a Revolução Francesa, muitos destes homens
que trabalhavam para a nobreza, perderam seus empregos nos palácios e passaram
a abrir seus próprios restaurantes.
Paralelamente, a profissão de “Chef”, que tem origem militar - portanto com homens
desempenhando este papel , foi ganhando importância ao longo dos anos. Basta
observar o “sistema de brigada”, elaborado por Escoffier (1846-1935) que
hierarquizou as funções dentro das cozinhas profissionais desde o chef - a
autoridade máxima, passando pelo sous chef - seu braço direito, seus subalternos
cozinheiros, até os ajudantes de limpeza. O próprio uniforme da cozinha, dólmã, foi
baseado em uniformes militares, com contornos masculinos.
Assim, cozinheiros reais e da nobreza, após a Revolução Francesa, tornaram-se
“chefs” de seus próprios restaurantes ou cozinheiros de famílias abastadas,
separando a alta cozinha da culinária cotidiana e pouco valorizada das mulheres.
Essa dicotomia prevalece até hoje e, infelizmente, continua a fundamentar nossa
compreensão dos domínios público - privado e os conceitos de masculino - feminino.
Essa divisão de gênero da habilidade de cozinhar, seguida pelo surgimento de
esferas separadas para homens e mulheres, proporcionou aos homens o controle
dos meios de legitimação profissional, como a autoria de livros de culinária, o ensino
em escolas de culinária e a exibição em exposições culinárias, justapondo eles no
papel de "educadores" e as mulheres como "estudantes", ajudando a
institucionalizar a exclusão das mulheres da cozinha profissional (Ferguson 2004).
Escavações e estudos antropológicos mais recentes do Período Neolítico, nos
apresentam uma nova leitura das comunidades humanas, onde, grosso modo, as
sociedades eram matrilineares e as relações se davam de maneira mais
horizontalizada, onde mulheres e homens trabalham em parceria para construção
das civilizações. Muitos estudiosos apontam uma relação mais harmoniosa entre a
humanidade e natureza e revelam uma ruptura neste ciclo virtuoso com a transição
dessas sociedades para patrilineares e bélicas.
A questão que aparece para mim atualmente é que vivemos num paradoxo.
De um lado, aparentemente, vemos um certo avanço nas discussões sobre gênero,
nas questões ligadas à sustentabilidade e às mudanças climáticas, etc. Porém , por
outro lado, estagnamos numa energia belicosa e autoritária. Sinto que para
sobrevivermos como espécie, é preciso avançar e rever momentos da nossa história
onde os simbolismos eram mais favoráveis ao humano e promover essa mudança
social, econômica e tecnológica do sistema dominador para um sistema de parceria
novamente.
Insisto que uma maneira de fomentar essa mudança é cozinhar. Sim, cozinhar
principalmente com as crianças, de todos os gêneros e idades. Compartilhando o
fazer culinário dentro das casas, das famílias e das comunidades, podemos estimular
o pensamento crítico, a empatia, a cooperação e tantas outras habilidades
necessárias para construção de um mundo com que todas e todos sonhamos e
pertencemos.
Aqui vai mais uma receita saudável e simples de ser feita e compartilhada em
família!
½ copo de uvas passas
1 xícara de chá preto
3 ovos
5 bananas nanicas maduras
2 xícaras de aveia em flocos
1 xícara de damasco seco picado
½ xícara de nozes picadas
½ xícara de ameixa seca sem caroço picadas
1 colher de sopa de fermento em pó
1. aqueça o forno a 180º
2. unte uma forma de bolo com furo no centro ou 6 forminhas de cupcake
3. hidrate as uvas passas no chá preto por 15 minutos e reserve;
4. no liquidificador, bata os ovos com as bananas;
5. transfira para uma tigela e, com a ajuda de uma colher, misture
delicadamente os outros ingredientes;
6. transfira a massa para forma untada;
7. leve ao forno por 30 minutos;
8. retire do forno e deixe amornar para desenformar. bom apetite!
● tábua
● faca
● tigelas
● colheres
● liquidificador
● forno
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Fonte:
https://womenareboring.wordpress.com/tag/industrial-revolution/
*Ariela Doctors é chef, comunicadora e mãe. Coordenadora Geral do Instituto Comida e Cultura
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