10 Dicas para prevenir o “Text Neck Syndrome” ou "Síndrome do Pescoço de Texto"
Dra. Natasha Vogel* Publicado em 18/03/2021, às 00h00 - Atualizado em 22/03/2021, às 13h43
Qual pai ou mãe nunca se preocupou com a postura do filho? Nessa época de pandemia DE COVID-19, em que os filhos tem permanecido mais tempo em casa, a preocupação com a postura tem se tornado cada vez mais frequente. Muitas crianças estão estudando remotamente, e por esta razão, estão mais expostas a telas (computadores, celulares, tablets, entre outros), e algumas vezes o uso recorrente pode provocar dores no pescoço.
A dor no pescoço é uma queixa frequente em adultos, mas devido ao uso precoce e inadequado de computadores, celulares e tablets pela população pediátrica, essa queixa está se tornando cada vez mais presente também em crianças. Este fato pode estar relacionado a um conjunto de sinais e sintomas definido como: “text neck syndrome”.
Dentre todas as condições de saúde que provocam doenças, a Organização Mundial da Saúde (OMS) classifica as dores cervicais e musculoesqueléticas como a 4a e 10a patologias mais frequentes, respectivamente. Na população pediátrica, de 15-19 anos, o “Global Burden of Disease Study” da OMS, ranqueou a dor cervical em oitavo lugar, superando doenças como asma, uso de álcool, uso de drogas e acidentes de trânsito.
É uma dor no pescoço provocada pela degeneração da coluna cervical decorrente de uma posição de flexão da cabeça para frente por longos períodos, a qual ocorre, principalmente, enquanto olhamos telas ou outros dispositivos. Estima-se que crianças chegam a ficar de 5-7 horas diárias com celulares ou tablets, sendo mais comum em adolescentes. A dor pode acometer qualquer estrutura do pescoço como: discos intervertebrais, ligamentos, músculos, articulações facetárias, raízes nervosas e dura-máter.
Vários podem ser os motivos que provocam as dores cervicais: tumores, infecções, processos inflamatórios, alterações congênitas ou fraturas, mas na maioria das vezes a principal causa é a dor musculoesquelética. É sabido que o peso da cabeça sobre o pescoço aumenta conforme aumentamos o grau de flexão da cabeça para a frente. Um estudo publicado na revista “Surgical Neurology International” mostra que a cabeça de um adulto na posição neutra (posição vertical) pesa 5 Kg sobre a coluna cervical, enquanto que se a flexionarmos para frente a 45 graus, o peso aumenta para, aproximadamente, 22Kg. Lembrando que não somente o ângulo de inclinação é importante, mas o tempo que a cabeça permanece na mesma posição também influencia na queixa cervical.
Alguns estudos listam diversos sintomas, e entre eles estão presentes as dores nos ombros, na coluna lombar, nos braços, dores de cabeça, sintomas oculares como cansaço, olhos secos, miopia; sintomas psicológicos como irritabilidade, stress, ansiedade, dificuldade de comunicação, isolamento social; obesidade, sedentarismo, e até problemas cardiopulmonares
Estudos recentes mostram que crianças com dores persistentes, tem maior chance de ter dor crônica na vida adulta, portanto a prevenção é a melhor opção. Mas, quando já estiverem presentes os sintomas de dor musculoesquelética, o diagnóstico precoce torna-se importante, além da compreensão dos aspectos da dor e dos fatores de risco associados a queixa, pois com isso o tratamento torna-se mais eficaz.
Devemos lembrar que crianças e adolescentes costumam não se preocupar com mudanças de hábitos de curto prazo que podem modificar a qualidade de vida quando adultos e por esta razão os pais precisam estar vigilantes quanto a isso.
Não existem estudos que definam a melhor ergonomia da estação de estudo para a faixa etária pediátrica, mas existem dicas preventivas para diminuir a chance de ter queixas cervicais.
Este é um problema de saúde pública complexo na sociedade moderna e, como sempre, um bom relacionamento entre pais e filhos será a chave do sucesso. Discutir os problemas futuros da má postura, entender a necessidade da criança sobre o uso de celulares, computadores ou tablets e controlar o uso de acordo com a necessidade é essencial. É preciso ainda, estabelecer limites e regras claras, dar bom exemplo e manter uma rede de apoio familiar em conjunto com o pediatra e o ortopedista para diminuir os riscos de dores crônicas.
*Dra. Natasha Vogel
Universidade de São Paulo, USP
São Paulo, Brasil
Universidade de São Paulo, USP
São Paulo, Brasil
Universidade de São Paulo, USP
São Paulo, Brasil
Título: Ortopedia Pediátrica
Hospital do Servidor Público Municipal, HSPM/SP
São Paulo, Brasil
Título: Ortopedia e Traumatologia
Faculdade de Medicina de Jundiaí, FMJ
Jundiai/SP, Brasil