Stella Azulay está fazendo uma série no Papo de Mãe sobre divórcio e nesta coluna fala sobre quando o ex-casal briga por dinheiro
Stella Azulay* Publicado em 14/08/2021, às 07h00 - Atualizado às 21h11
Um dos assuntos mais delicados para se tratar na vida, em todas as esferas, é dinheiro, e não é diferente na hora de um divórcio. Muitas vezes, o dinheiro, como sempre, é utilizado como uma ferramenta de manipulação, de jogo de poder, de jogo de amor, uma disputa mesmo, né? E mais uma vez eu faço um apelo aos pais para que tenham bom senso porque na hora da separação está em jogo o futuro dos filhos, dessas crianças ou desses jovens adolescentes, e eles ficam extremamente confusos quando os pais acabam se perdendo nessas disputas, nessas vinganças.
Usando o dinheiro, a coisa vai para um nível realmente deplorável, e eu então vou trazer aqui alguns exemplos do que não deve acontecer, do que não deve ser feito. Uma das formas de se usar o dinheiro no divórcio para disputar o amor é dando presentes. Então sempre vai ter aquele que vai querer dar um presente melhor do que o que outro deu: "eu sou o pai legal" ou "eu sou a mãe que compro tudo que ele quer e o pai não dá", etc.
Enfim, não importa o que, mas a criança cria uma confusão imensa na cabeça sobre valores, se torna uma criança mimada, entende o poder que ela tem e fica usando os pais pra conseguir o que ela quer e acaba até colocando, muitas vezes, mais ainda um contra o outro. Elas usam esse amor que os pais disputam de uma forma errada, e assim vão reproduzir essa forma de disputar amor nos relacionamentos futuros, na vida futura.
A outra maneira é se eximindo de toda a responsabilidade. Muitos pais, depois de uma separação, acreditam que não têm mais responsabilidade financeira sobre aquele filho, o que é totalmente errado, pois tanto o pai quanto a mãe têm essa responsabilidade, e aqui eu não estou jogando só nas costas do pai, porque tem muita mãe que trabalha.
Existem algumas formas de guarda, mas independentemente disso, o que o ex-casal precisa ter em mente é entender que existe um valor razoável de participação de cada um nisso, que a participação é obrigatória. Todos nós que colocamos filhos no mundo temos responsabilidades sobre a saúde, alimentação, vestuário deles, são tantas áreas que impactam na questão financeira, e que se um dos pais joga tudo para outro, mesmo tendo condições, não dá. A atitude conta muito nessa hora.
É muito importante que os pais participem assim também, cumprindo com a sua obrigação, mostrando pros filhos que eles têm essa responsabilidade. Quem pode mais, que ajude mais, quem pode menos, que ajude da forma que pode, que a participação seja equilibrada de acordo com as possibilidades de cada um. Muitas vezes se faz alienação parental por conta do dinheiro, situações como "enquanto você não me der o que eu quero de pensão, eu não deixo você encontrar os seus filhos...". Isso é veneno na formação de caráter dessas crianças, isso é veneno na saúde emocional de adolescentes, pré-adolescentes, crianças que já entendem do que se trata o tema.
Jamais façam isso! Vocês têm a intenção, muitas vezes, de atingir o outro, por raiva, rancor, vingança, todas essas emoções muito negativas, em qualquer área da nossa vida com qualquer pessoa, mas com ex parece que isso vem com uma veracidade maior, uma intensidade maior. Os únicos que vão perder aqui são os filhos, e são os grandes prejudicados, os grandes perdedores dessa disputa de amor, poder e vingança através do dinheiro.
É urgente que se faça um trabalho para que essas crianças tenham alguma educação financeira, tenham noção do dinheiro, noção de valores, e que jamais o dinheiro caia na representação do que seja um pai, uma mãe, um amor ou a conexão entre seres humanos.
* Stella Azulay é diretora e fundadora da escola de pais e adolescentes XD