Os impactos das redes sociais na saúde mental das novas gerações vem sendo estudados e o resultado não é nada positivo
Renata Rivetti* Publicado em 23/02/2022, às 06h00
O Brasil é o 3° país com mais usuários nas redes sociais. Será coincidência que temos um dos piores indicadores de saúde mental do mundo? Certamente esta não é a única causa, mas os impactos das redes sociais em nossa saúde mental vem sendo estudados e o resultado não é nada positivo. Vários estudos, entre eles o conduzido pelo 'The National Center for Health Research', comprovam a ligação entre uso das redes sociais com aumento na depressão e infelicidade dos usuários.
Claro que há o lado positivo. A tecnologia e as redes sociais trouxeram ganho para nossas vidas: a informação se democratizou, podemos interagir com pessoas em todo o mundo, buscar dados, tendências. Porém, não há como ignorar o impacto em nossa saúde mental. Há grandes malefícios que deveríamos olhar com mais calma: acabamos recebendo dopamina (hormônio que gera sensação de recompensa, como sexo e comida), aumentamos a nossa mente divagante e aumentamos também nossa comparação social. Com isso, permanecemos horas conectados, acreditando que existe um mundo perfeito, vidas maravilhosas, corpos e rostos sempre jovens, enquanto a nossa vida parece sempre ter desafios, dúvidas, insegurança, baixa auto-estima. E claro, nas crianças e jovens esse impacto é ainda maior.
Mas o que fazer neste cenário que parece sem volta? O mundo não está falando de um detox ou retrocesso na tecnologia, ao contrário, estamos falando de um mundo no metaverso, que gostemos ou não já está acontecendo. Qual o papel dos pais nessa situação? Proibir o uso? Limitar? E como se adequar, quando não controlamos o que acontece?
Não há uma única resposta, mas algo precisa sim ser feito e o caminho talvez seja uma comunicação clara e transparente, além de rituais a serem cumpridos, como deixar celular de lado quando família estiver vendo algo juntos, brincando ou jantando. E talvez o aspecto mais importante de todos: as crianças e jovens aprendem muito pelo exemplo. Parece clichê, mas a verdade é que não adianta pais que falam que a criança ou jovem não pode usar o celular e passam o dia todo conectados, respondendo mensagens e e-mails de trabalho.
Um estudo interessante sobre o tema foi conduzido pelo prêmio Nobel, Daniel Kahneman. Ele estudou a satisfação de mães em suas atividades diárias. Elas listaram como se sentiam em cada atividade, como almoçando, trabalhando, na ginástica, com os filhos, etc. O resultado (surpreendente?) foi que a satisfação do tempo que passavam com os filhos foi baixa. Não era que as mães não gostavam dos filhos, mas que elas normalmente passavam tempo de baixa qualidade com eles, tentando ser multitarefas. Então, estar com os filhos, ao mesmo tempo que tem que responder e-mails, mensagens, prejudica tanto a relação com os filhos, passa um exemplo de pouca conexão, além de também prejudicar a atividade que esteja fazendo no celular ou computador.
A tecnologia facilita nosso dia a dia. Mas o limite quem deve colocar somos nós mesmos. Tanto para nós, como para nossa família. Cuidar da nossa saúde mental deveria ser nossa prioridade, então por que passamos tanto tempo postergando a mudança de hábitos?
Como você lida com o celular na sua casa?
*Renata Rivetti - especialista em felicidade e diretora da Reconnect Happiness at Work. Formada em administração pela FGV. Possui Pós-Graduação em Psicologia Positiva, Ciência do Bem-Estar e Autorrealização pela PUC-RS e Especialização em Estudos da Felicidade na Happiness Studies Academy (Tal Ben-Shahar). Compõe o corpo docente do “MBA Felicidade Organizacional Happiness Business School e ISEC - Instituto Superior de Educação e Ciências em Lisboa - ministrando as aulas de “Psicologia Positiva e Ciência da Felicidade”.]
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