A Dra. Silvana Maria Fernandes explica a aplicabilidade da acupuntura desde antes da gestação, durante o parto e como o feto pode ser afetado pela prática
Maria Cunha* Publicado em 22/12/2021, às 07h00
A acupuntura é uma arte milenar que faz parte da medicina tradicional chinesa e busca as próprias substâncias benéficas do nosso corpo. A prática é uma terapêutica muito importante durante a gestação, em termos de medicina integrativa, já que este é um período da vida da mulher em que poucos medicamentos podem ser utilizados.
Acupunturiatra do Centro de Medicina Integrativa da Pro Matre, a Dra. Silvana Maria Fernandes é uma médica híbrida, com duas especialidades: a ginecologia obstetrícia e a acupunturiatria, que é reconhecida pela Associação Médica Brasileira já há bastante tempo. O termo acupunturiatra surgiu para, realmente, diferenciar o profissional médico de outros que não têm formação em medicina, mas também aplicam a acupuntura.
Em entrevista ao Papo de Mãe, a médica conta que a acupuntura pode começar até antes da gestação, na pré-concepção.
“A gente tem bastantes estudos, já, mostrando que a acupuntura pode ajudar mulheres inférteis, principalmente aquelas que estão submetidas à fertilização e estão no momento da implantação, porque a gestação começa antes da concepção, na minha visão. A mulher já começa a ter, aí, um preparo todo gestacional antes da concepção, então são pré-gestacionais”.
Em razão disso, a Dra. Silvana explica que há uma preocupação em divulgar que a acupuntura pode ser usada em processos que dizem respeito à fertilização assistida.
Após a concepção, a acupuntura também pode ser aplicada no primeiro trimestre de gestação, marcado por incômodos da êmese gravídica, ou seja, náuseas e vômitos. A acupunturiatra conta que muitas mulheres, inclusive, têm um desconforto ainda maior em relação a isso, a chamada hiperêmese.
“Além disso, todos os fatores emocionais, alimentares, comportamentais, as expectativas da gestante em relação à própria gestação, as ansiedades, os medos, as angústias ou até más experiências pregressas em outras gestações, a gente pode trabalhar, também, no primeiro trimestre e durante toda a fase gestacional”, explica a Dra. Silvana Maria Fernandes.
Mais pra frente, nas gestações de curso normal, há crescimento da barriga e maior desenvolvimento fetal. Isso acarreta, segundo a médica, em uma mudança de postura e até de eixo de coluna por conta do crescimento do ventre. Nessa fase, é possível aplicar a técnica da acupuntura para as dores musculares.
“Nós temos recebidos bastantes grávidas que têm poucos recursos de tratamento em termos de medicamento, então, pras lombalgias, pras cãimbras gestacionais, para síndrome do túnel do carpo, que pode acontecer durante a gestação, e toda a parte, também, de preparo relacionado à parte de postura”.
A aplicabilidade da acupuntura se estende até durante o trabalho de parto, o que pode envolver desde a analgesia até a indução, o que ainda não é muito desenvolvido no ocidente.
Uma dúvida que muitas pessoas têm é se a acupuntura pode afetar diretamente o feto e ocasionar algum acidente. A Dra. Silvana explica que isso não é comum, a não ser que haja um acidente inadvertidamente, ou seja, sem cuidado.
”Não tem como ser inadvertidamente você aplicar agulhas sobre um ventre e atingir o útero. Isso é praticamente impossível, porque as agulhas são muito finas, mas existem essas coisas meio loucas assim”, pontua a acupunturiatra.
Apesar disso, a médica explica que, indiretamente, o feto é afetado, já que toda vez que a mãe é atingida, o acupunturiatra mexe com mecanismos hormonais e substâncias neuroendócrinas.
“Existem, até, nos clássicos filosóficos chineses, o que eles chamam de pontos proibidos, que a gente evita durante a gestação, mas, que, por outro lado, podem ser usados, por exemplo, na hora do parto, para ajudar o parto. Então, tudo é relativo na medicina. O que é proibido aqui, eu posso utilizar ali para o efeito terapêutico que eu desejo”.
A Dra. Silvana ainda lembra que, durante a gravidez, há um outro indivíduo sendo trabalhado no ventre materno, então tudo que a grávida pensa, deseja, sente, não só física, como emocionalmente, o feto, obviamente, está sentindo desde a concepção, até o desejo de ser recebido ou não nesse ventre. Tudo isso, segundo ela, é trabalhado durante a entrevista, a primeira consulta em acupuntura.
“Acupuntura, embora seja natural, buscando opções terapêuticas naturais, holísticas e endógenas, é um procedimento médico e precisa ser feita com cuidado, principalmente durante a gestação, porque a gente tem, ali, dois seres e, além disso, as fases gestacionais são diferentes, a mudança no corpo feminino é muito grande, então a gente tem que saber o que tá fazendo, quando fazer e quais os pontos a serem utilizados, para que a gente não corra risco de acidentes durante a gestação, ou com qualquer indivíduo”, conclui a acupunturiatra Dra. Silvana Maria Fernandes.
*Maria Cunha é repórter do Papo de Mãe
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