Para dormir à noite, uma criança não precisa desmamar. Ela precisa crescer
Dr. Moises Chencinski* Publicado em 25/03/2021, às 00h00 - Atualizado às 12h17
Não dormir é uma das questões que mais assombram a vida das mães. Isso já começa no final da gestação (último trimestre) quando já não dá mais para se virar na cama com facilidade e os despertares para fazer xixi à noite se tornam mais frequentes.
E depois que nasce o bebê? Onde está a tal da luz no final daquele tal de túnel que as mães têm dificuldade até em procurar?
A livre demanda é considerada um dos “vilões” do sono, apesar de ser a indicação da OMS, da Sociedade Brasileira de Pediatria, de todos que trabalham e protegem, promovem e apoiam o aleitamento materno. A prolactina, hormônio que coordena a produção de leite, é mais liberada à noite, o que favorece a mamada nesse período.
Mamar à noite (leite materno) é um dos fatores de proteção das crianças que apresentam riscos para morte súbita infantil. Conforme os sistemas se desenvolvem e se aperfeiçoam, esses riscos diminuem sensivelmente e, não há motivo de preocupação, se o bebê dormir a noite toda.
Apesar de até a livre demanda ir se adaptando com o tempo (o bebê cresce, seu estômago aumenta, a cada mamada ele mama mais leite e isso pode fazer com que ele passe a mamar mais espaçadamente) e não haver necessidade de mamar à noite, nem sempre isso acontece. Aliás, pelos relatos das mães, parece que isso nunca acontece.
Dormir não é uma capacidade que nasce com a gente e permanece igual até o fim da vida. Cada faixa etária tem sua necessidade. E cada ser humano tem a sua necessidade. E cada bebê tem a sua… tá, você já entendeu. Existem tabelas que mostram quanto seria necessário de sono em cada fase da vida, mas a “margem de erro” é tão grande que ela serve apenas como um guia.
Tem gente que dorme pouco (para os padrões e as tabelas), acorda disposta, passa o dia muito bem. Outras pessoas dormem bastante e quando acordam só querem … dormir “mais um pouquinho, vai mãe!!!!
E como a criança “não precisaria” mais mamar à noite, mas ela acorda, muitas mães, algumas até orientadas por profissionais, promovem o desmame noturno de seus bebês, trocando o leite materno por fórmulas em mamadeiras, que trariam maior saciedade e, dessa forma, a criança não acordaria mais e… ainda assim a maioria deles não dorme (além dos riscos e problemas por conta da mamada de fórmulas em mamadeiras para dormir e de madrugada).
Simples assim. Alguns profissionais de saúde dizem que entre os 3 e os 6 meses uma criança não precisa mais mamar à noite. Não sei de onde tiraram essa conclusão. Ela não é real. A criança mama enquanto ela precisar.
Quanto mais ela se sentir acolhida, compreendida, nutrida de leite materno e atenção, maiores as possibilidades de ela se “desenvolver” (isso, sair de seu envolvimento, evoluir, crescer) com segurança, sabendo que ela terá sua voz ouvida e não será abandonada, “chorando para ela entender quem manda aqui”, quando, por qualquer razão, ela precisar. Saber que ela poderá ir e voltar.
Todos os caminhos deveriam ser de ida e volta para uma criança, em todas as fases de sua vida. Isso transmite segurança e paz. Pensando bem, essa deveria ser uma característica para todos nós e para todas as nossas crianças interiores. Sempre é bom ter para onde voltar. E sabendo que, mais dia, menos dia, todo mundo dorme e todas as crianças desmamam. Cada um a seu tempo.
*Dr. Moises Chencinski é pediatra e homeopata.
Presidente do Departamento Científico de Aleitamento Materno da Sociedade de Pediatria de São Paulo (2016 / 2019 – 2019 / 2021).
Membro do Departamento Científico de Aleitamento Materno da Sociedade Brasileira de Pediatria (2016 / 2019 – 2019 / 2021).
Autor dos livros HOMEOPATIA mais simples que parece, GERAR E NASCER um canto de amor e aconchego, É MAMÍFERO QUE FALA, NÉ? e Dicionário Amamentês-Português
Editor do Blog Pediatra Orienta da Sociedade de Pediatria de São Paulo.
Criador do Movimento Eu Apoio leite Materno.