A psicóloga clínica Cilene Dantas fala sobre a importância de tratar a separação com muito diálogo, sem repreender ou oprimir os sentimentos dos filhos
Cilene Dantas* Publicado em 30/03/2022, às 09h11
Quando um casal com filhos decide tomar rumos diferentes na vida conjugal, existem questões que vão além da decisão de ambos. Normalmente, esses contrapontos estão ligados aos filhos, que agora precisam entender, assimilar e aceitar essa mudança.
Mas o que de fato representa essa mudança na cabeça deles? Se será algo positivo ou negativo dependerá muito da maturidade do casal em saber administrar e comunicar com sinceridade e empatia essa mudança. Se questões como mal-estar e ressentimentos ainda tiverem muito latentes na esfera do casal, será necessário um tempo de entendimento dessas emoções e a criação de um espaço de humildade para o perdão, pois a felicidade dos pais reflete diretamente na saúde emocional dos filhos.
Quando ouço no meu consultório a frase “terminou porque não deu certo”, abro um espaço para a reflexão deste meu paciente para que ele entenda que possivelmente deu certo sim, até o momento em que não foi mais possível continuar naquela relação. É preciso aceitar que coisas boas foram vividas e podem se tornar boas lembranças no futuro, com gratidão.
E o filho deste casal é fruto dessa certeza de que algo muito genuíno existiu ali. Por isso, existem alguns pontos importantes e algumas “armadilhas emocionais” nessa separação que precisam de uma certa atenção:
Em alguns casos de separação observo questões como agressividade e regressão. Quando isso acontece, certamente, é por uma confusão nos sentimentos dessa criança, que pode estar ressentida e não saber expressar isso de outra forma. Elas fantasiam e acreditam que o pai ou a mãe, por exemplo, vão sumir a qualquer momento e não voltar mais. Acontece casos em que a criança regride no desempenho escolar por conflitos emocionais internos. Portanto, é necessário ficar atento ao comportamento dessa criança no pós-relacionamento e trabalhar com acolhimento, carinho, segurança e empatia. Mostrar que ele pode se sentir seguro, ainda que em uma relação de separação do casal e tratar o tema com muito diálogo, sem repreender ou oprimir os sentimentos.
Questionamentos por parte dos filhos também são muito comuns nessa fase da separação. Uma maneira interessante para ajudar a criança a entender é devolver esse mesmo questionamento com outra pergunta para ela de forma que consiga extrair a percepção que ali está. Ao ouvir “Mãe, o que está acontecendo? ”, você responder “Filha, o que você acha que está acontecendo? ”. Nesse momento, você consegue contar para a criança a situação no nível em que ela consegue compreender.
Primeiramente, é necessário que a maturidade do casal esteja em um nível satisfatório. Isso para evitar fazer o chamado “inferno” na vida um do outro. Isso pode interferir de forma drástica na condição emocional dos filhos, trazendo traumas irreversíveis. Lembre-se sempre de que esse filho é 50% de cada um, ou seja, uma mistura dos dois. Então, é preciso honrar a relação que existiu entre esse casal e preservar o fruto desse amor que também existiu um dia.
A concepção dessa nova família precisa ser aceita como uma extensão boa e não como um fardo. Se o ex tiver uma namorada que seu filho adora, pense nisso de forma positiva. Afinal, é melhor uma pessoa que trate bem o seu filho do que uma que crie conflitos. Acredite sempre na felicidade e no lado positivo das coisas. Respire fundo e vida que segue!
*Cilene Dantas é Psicóloga Clínica (CRP 06/76083), especialista em atendimento de pais, desenvolvimento do potencial humano e saúde mental, professora no Instituto Sede Sapientiae e palestrante.
Instagram: @cilenedantas_pilulasdeterapia