Pandemia revelou o potencial transformador das ferramentas digitais para as escolas
Sandro Bonás* Publicado em 19/02/2021, às 00h00
A pandemia acertou em cheio a educação brasileira. Impedidas de receber alunos, as escolas precisaram intensificar, da noite para o dia, o processo de migração da aprendizagem presencial para o ambiente virtual, acelerando uma tendência que já vinha se consolidando nos últimos anos. Agora que o país inicia um novo ano letivo, cabe refletir sobre algumas das lições que já podemos tirar desses últimos meses.
A escola brasileira, de forma geral, adota um modelo centralizador. Em aulas expositivas, o professor transmite conhecimentos e em seguida testa os alunos, aplicando provas e trabalhos. Avaliando, basicamente, o quanto de informação os estudantes são capazes de reter. É um modelo antigo e limitante, que torna pouco desenvolvidas as habilidades necessárias para o aluno enfrentar, com sucesso, os desafios do século XXI.
Além disso, esse formato deixou de ser uma possibilidade durante a pandemia. Pegas de surpresa, as escolas precisaram se adaptar ao ambiente virtual, e a velha aula expositiva, convertida em vídeo, passou a ser ministrada remotamente. O nível de interesse e engajamento dos alunos despencou, criando enormes lacunas de aprendizagem em todos os níveis da educação básica.
Isso prova, então, que a educação remota não funciona? De forma alguma. O problema é o uso que fazemos das ferramentas digitais. Durante a pandemia, quase sempre assistimos a uma migração digital, com a simples transposição de velhas estratégias pedagógicas para a tela dos computadores e smartphones.
Para isso, o aluno deve ser protagonista do seu processo de aprendizagem. Em vez de reter informações, ele precisa aprender a solucionar problemas. A aula expositiva continua tendo espaço, mas ela deve compor um tripé, que inclui também o trabalho em grupo e a pesquisa individual.
Isso não reduz a importância do professor – muito pelo contrário: de repetidor de informações, ele passa a ser um mediador do processo de aprendizagem. Sua tarefa é mais complexa e indispensável. Apoiado em dados, o professor pode fazer o diagnóstico da classe e prescrever atividades adequadas a cada aluno. Logo, uma escola que ensina a agir com autonomia promove também uma educação muito mais personalizada.
Aqui está o grande potencial transformador das ferramentas digitais. Elas permitem que cada estudante construa sua própria trajetória de aprendizagem. Se no passado todos precisavam consultar um mesmo livro ou texto, hoje o professor pode lançar um problema para a sala e permitir que cada aluno busque respostas como preferir. As novas tecnologias também possibilitam interações antes impensáveis. É possível, por exemplo, envolver estudantes de várias regiões do mundo em um mesmo projeto.
Quando olhamos para a educação remota como uma simples forma de transmitir videoaulas, desperdiçamos o melhor que ela tem a oferecer, comprometendo o futuro de nossos jovens. O mercado de trabalho atual busca profissionais independentes e criativos. As grandes empresas sabem que os desafios de hoje não serão os mesmos daqui a cinco ou dez anos. Portanto, alguém incapaz de agir com autonomia, de se adaptar diante novas dificuldades, de buscar soluções para problemas imprevistos não terá espaço na economia do século XXI.
Com o início do ano letivo e a volta gradual das aulas presenciais, estamos diante de uma encruzilhada. Precisamos escolher entre retomar o modelo pedagógico antigo, centralizador e expositivo, ou aprender a lição deixada pela pandemia, investido na renovação das escolas, com a transformação digital e uma educação híbrida de excelência. Temos uma oportunidade única de colocar o Brasil na trilha da educação do futuro.
*Sandro Bonás é CEO da Conexia Educação