Marcelo Moreira, pai de uma menina de 12 anos, pede ajuda: a filha não quer mais sair de casa nem voltar para a escola
Mariana Kotscho* Publicado em 01/01/2022, às 07h00
Não são poucas as crianças e adolescentes que estão com dificuldades de sair de casa depois do fim do isolamento social. Muitas sequer conseguiram voltar para a escola quando houve o retorno das aulas presenciais.
Aqui no Papo de Mãe já fizemos reportagem sobre o tema e temos recebido muitos pedidos de ajuda de mães e pais, como Marcelo Moreira, jornalista, que tem uma filha de 12 anos.
Ele nos escreveu comentando que só no bairro onde mora, em São Bernardo do Campo, na região do ABC paulista, há pelo menos outros dois adolescentes que se recusam a sair de casa. No caso da filha de Marcelo, ele acredita que o que agravou a situação foi ela ter mudado de escola pouco antes de a pandemia começar. A menina se isolou bastante durante o período de aulas remotas, inclusive se recusando a sair do próprio quarto. "Não é nem cabana, nem gaiola. É como se ela estivesse numa caverna, numa gaiola dentro da gaiola", desabafa o pai. O Quarto teria se tornado o refúgio para a adolescente que desenvolveu uma certa fobia social.
O termo "síndrome da gaiola" é uma expressão popular adotada para definir este comportamento de pessoas que estão com dificuldade para retomar o contato social, tendo até sintomas físicos que as impedem de deixar a segurança do lar.
"Por mais que tentássemos no diálogo, a menina se fechou em casa e se refugiou no celular e no tablet, acessando os influenciadores de sempre e o tik tok. Emperrou nas lições, antes sempre encaradas de forma normal, desenvolveu uma rebeldia antes nunca vista e ficou agressiva. Na volta obrigatória às aulas nas escolas estaduais, simplesmente empacou e entrou em desespero. Não conseguimos convencê-la a voltar à escola, que fica muito perto de casa. Já foram duas crises de pânico e surto, sempre gritando que não tem amigas lá, que tem medo de ser agredida, de ser excluída, de ser ignorada", conta Marcelo.
O outro caso no mesmo bairro é muito semelhante: uma menina de 13 anos que não apresenta sinais de síndrome do pânico ou algum surto emocional, mas simplesmente se recusa a sair de casa.
A filha de Marcelo também não fala muito com os pais, o que causa ainda mais angústia, e nem pensa de tentar ao menos voltar ao mínimo convívio social com as amigas. Ela ainda tem muito medo da pandemia também: "Ela sempre fala sobre isso, eu não quero sair, tenho medo de sair de casa porque não quero ficar doente. Ela já falou isso várias vezes"...
A preferência da adolescente é ficar no quarto, no celular, nos eletrônicos. As telas ocupam todo o tempo e a atenção dela. Segundo o pai, como ela fica nos eletrônicos e vai dormir muito tarde, ela acaba dormindo de manhã e no começo da tarde. Ou seja, ela inverteu o fuso horário e está com a rotina alterada. Além disso, janta e almoça no quarto, sem vontade de ficar com a família.
O que mais deixa a gente desesperado é a impotência. Minha preocupação é tentar me reconectar com ela e fazer com que ela se reconecte com a sociedade e com o mundo exterior, porque hoje ela é uma pessoa amedrontada. É uma pessoa que tem dificuldade de relacionamento fora de casa. (Marcelo Moreira)
Para especialistas ouvidos pelo Papo de Mãe, é preciso ter paciência, tentar uma reaproximação aos poucos e procurar ajuda profissional.
Para a psicoterapeuta Helen Mavichian, tendo em vista os aspectos observados é imprescindível o acompanhamento e observação dos pais no que diz respeito à volta das crianças e adolescentes ao "novo normal". Em caso de medo marcante e persistente, expresso por choros, ataques de raiva, imobilidade, comportamentos hostis ou apresentar dificuldade em falar é indispensável a busca por ajuda de um profissional qualificado. "Em um momento tão adverso como esse, nossas crianças precisam se sentir acolhidas. "
O psicoterapeuta Leo Fraiman sugere que os pais podem montar um plano gradual para tirar os filhos das telas, do quarto, de casa. Um passo a passo, com combinados. Diminuir dia a dia o tempo de telas, passar a fazer atividades fora do quarto, começar a sair de casa aos poucos, com máscara e outras proteções, se necessário.
Tem que colocar pro filho de um jeito simples, porém carinhoso, e dizer: olha, filho, nós vamos aprender a conviver com esta vida real que existe no mundo. Nós vamos praticar agora uma aproximação de uma vida com cuidados. Cuidado é bom, paranóia é ruim."(L.F)
É importante cuidar desta situação porque isso pode se agravar e gerar trantornos mais graves como fobia social (incapacidade de conviver com as pessoas), trantorno evitativo de personalidade ou transtorno narcisista de personalidade.
*Mariana Kotscho é jornalista, repórter do Papo de Mãe e comentarista do Bem Estar da Rede Globo.